Carros autônomos: realidade ou utopia?

O Estado de S. Paulo 

 

As maiores empresas de tecnologia do mundo, como o Google (Waymo), a Apple e o Baidu, têm projetos de carros autônomos. Waymo recentemente fechou parcerias para que esses carros virem realidade na França e no Japão em algum tempo. A Argo AI, startup investida pela Ford, está dando acesso para que pesquisadores usem sua base de mapas 3D para que projetos de mobilidade autônoma também ocorram. Hoje, mais de 1,4 mil carros, caminhões e outros veículos autônomos rodam nos EUA em

 

testes de 80 empresas, em 36 Estados, segundo o Departamento de Transportes americano. Mas será é suficiente para dizer que esses projetos estão prestes a ganhar as ruas?

 

Particularmente, acredito que ainda levará bastante tempo para que veículos completamente “autopilotáveis” circulem em massa. E mais: vejo uma movimentação gradual para que passemos do estágio 0 de autonomia – tais como vemos hoje na maioria dos carros – para a fase 5, considerada de independência completa do motorista, segundo a classificação da Sociedade dos Engenheiros Automotivos (SAE) dos Estados Unidos.

 

Já começamos a observar movimentações em que a autonomia acontece por partes: sistemas que mantém os veículos alinhados às faixas de trânsito, conseguem estacioná-los sozinhos ou usam freio automático para evitar colisões. Alguns protótipos já oferecem direção automatizada em certos tipos de terreno. À medida que tais funções evoluem, mais etapas do processo de direção serão automatizadas até chegar em processos completos, como o sugerido pela Waymo.

 

Independente do compasso desse amadurecimento, são inquestionáveis os efeitos dos carros autônomos na sociedade: desde a mobilidade facilitada à transformação positiva na produtividade do até então motorista – que passa a passageiro do veículo inteligente, podendo aproveitar o tempo de deslocamento para outras tarefas.

 

Para a especialista Kathleen Walch, fundadora da consultoria Cognilytica, os veículos autônomos trarão sim disrupções importantes na indústria, prestação de serviços e até empregos. Na indústria de peças de automóveis, para que servirão volante, pedais ou câmbio num contexto de autonomia total? Motoristas não seriam mais necessários? E os serviços de carteira de habilitação?

 

Ainda há muitas dúvidas sobre o tema, mas, assim como em toda transformação trazida por novos tecnologias, esses setores vão precisar se reinventar para seguir relevantes.

 

Não sabemos em quanto tempo as tecnologias caminharão para viabilizar o veículo autônomo total e em massa para os consumidores, mas que os efeitos esperados serão profundos e irreversíveis, isso não há como negar. (O Estado de S. Paulo/Camila Farani, Investidora Anjo e Presidente da Boutique de Investimentos G2 Capital)