Renault decifra códigos e conquista o Brasil

Futuretransport

 

Desde que tentaram invadir o Brasil pelo Rio de Janeiro, a relação entre franceses e brasileiros nunca foi muito fácil. Mas alguma coisa vem se invertendo. Prova disso é que a Renault mantém a quarta colocação e parece ter, finalmente, conquistado a alma nacional.

 

Há quatro meses consecutivos, a montadora francesa se mantém nesta posição com 8,9% de participação nas vendas de veículos – sua melhor marca em mais de 20 anos com fabricação própria no Paraná.

 

Atualmente, a Renault mantém a quarta colocação e só fica atrás das grandes e tradicionais General Motors, Volkswagen e Fiat. Com seu trabalho bem-sucedido, a francesa tirou a quarta colocação da Ford, que passa por muitas atribulações neste instante no Brasil.

 

Com uma gama diversificada de produtos, em menos de uma década a Renault dobrou seu share e passou a disputar o topo do mercado nacional, colocando-se em evidência e na perspectiva de uma base muito mais ampla de consumidores.

 

Para isso, foi fundamental uma mudança de atitude com maior aproximação entre os centros de desenvolvimento na Europa com a engenharia nacional na tropicalização de produtos ao gosto do consumidor brasileiro e sul-americano.

 

Com a produção local de componentes e peças antes importados da Europa, a Renault readequou procedimentos para diminuir a importação, reduzindo custos e permitindo queda no preço da manutenção de seus modelos – tida no passado como um dos seus pontos fracos.

 

O lançamento do Kwid, cerca de ano e meio atrás, colocou a Renault em um novo patamar, do qual só espera subir daqui para frente.

 

Com cerca de 21 mil unidade emplacadas em maio, o pequeno “SUV” da Renault é um sucesso, que só cresce impulsionado pelo boca a boca. Sua economia de combustível surpreende, assim como o acabamento interno e o design.

 

A Renault mantém a quarta colocação no mercado nacional impulsionada também pelo Kwid. No Nordeste, o “carrinho” conquista público e vem levando uma gama de consumidores novos às concessionárias, quebrando um preconceito que muitos tinham do “carro importado”.

 

“A aceitação do Kwid tem sido impressionante, com consumidores que ouviram falar do carro por parentes e amigos”, afirma Carlos Henrique Ferreira, o Caíque, diretor de Comunicação da Renault.

 

Atualmente, a Renault conta com uma bem estruturada rede de concessionários com 300 pontos de vendas cobrindo todo o território nacional.

 

Houve remodelação e entrada de novos parceiros na revenda, fortalecendo uma estratégia de aproximação com o consumidor final.

 

Elétricos

 

Desde que o Zoe começou a ser vendido também para consumidor final no Brasil, em novembro de 2018 durante o Salão do Automóvel de São Paulo, já foram entregues 20 Zoe para o consumidor final e um novo lote de 40 veículos já chegou para atender os novos pedidos.

 

Com 4,084 m de comprimento, 1,73 m de largura, 1,562 m de altura e 2,588 m de entre-eixos, o Renault Zoe tem motor elétrico de 109 cavalos, bem como baterias de lítio de 41 kWh que lhe confere uma autonomia de 300 km.

 

Com preço sugerido de R$ 149.990, o Renault Zoe é vendido pelo site da Renault e também em duas concessionárias no país, a Sinal, em São Paulo, e a Globo, em Curitiba. As duas concessionárias também possuem unidades do veículo 100% elétrico para a realização de test drive.

 

Produção

 

Outra estratégia bem-sucedida da Renault está no mercado de comerciais leves. A Master, tanto nas versões furgão quanto van, domina o mercado deste importante filão.

 

Fabricada em uma unidade exclusiva do complexo industrial da Renault na região metropolitana de Curitiba, a Master tem mais de 50% das vendas do segmento.

 

Soma-se a isso a estratégia comercial bem-sucedida de vendas corporativas, tanto de veículos de passeio quanto comerciais leves, que ampliam a visibilidade da Renault em tempos de recuperação da industrial automobilística no Brasil.

 

Atualmente a Renault trabalha em três turnos de produção no Paraná para dar conta das vendas da sua linha de produtos, que inclui ainda Sandero, Duster, Oroch, Captur e Logan.

 

Só a Master opera em um turno com cerca de mil unidades produzidas mensalmente, mas tem tudo para iniciar mais um novo turno.

 

Outra boa decisão foi o preparo de 20% das revendas para atender com profissionalismo o consumidor de comercial leve, que precisa da maior disponibilidade do veículo para o trabalho.

 

História

 

Desde quando decidiu instalar uma fábrica no Brasil no início dos anos 2000, a montadora francesa deu passos incertos por aqui.

 

No começo, não entendeu muito bem o gosto nacional com a importação ou tropicalização de produtos que não caíram no gosto ou tiveram uma estratégia errada de comercialização, gerando perdas de imagem para a montadora.

 

Houve também falha inicial na estruturação da rede, com representantes que não estavam alinhados ou devidamente comprometidos, rendendo também muitos problemas para a empresa.

 

A troca sucessiva de executivos, que vinham para cá até com uma certa arrogância, foi outro motivo que fiz com que a marca patinasse em seus primeiros anos.

 

Ainda gerou ruídos a polêmica com a obtenção de subsídios tributários do governo do Paraná para tirar do ABC a concentração da produção automobilística.

 

A relação começou a se inverter no início desta década, com uma ampla reforma e mudança de conceitos e mentalidade.

 

A engenharia nacional passou a atuar de forma mais decisiva na concepção dos produtos.

 

O Kwid é a melhor representação dessa nova fase – daí, sem medo de errar, seu espetacular sucesso.

 

Muito influenciado pelo traço alemão e americano, parte do público brasileiro nunca entendeu muito bem o conceito por trás do design francês que, se parece encantador no início, se desgasta e envelhece muito rápido.

 

Os engenheiros brasileiros atuaram de forma eficaz para suavizar o traço ao adaptar os carros para o brasileiro. Talvez Citroën e Peugeot ainda não entenderam bem isso.

 

Futuro

 

Com a recuperação do mercado nacional, a Renault tem tudo para continuar avançado. Uma vez quebrada resistências e preconceitos, o caminho para o topo está aberto. (Futuretransport/Wagner Oliveira)