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Pouco a pouco a locação de caminhões ganha atenção no segmento de transporte de cargas, como uma opção para as empresas transportadoras e para alguns embarcadores que operam com frota própria ou que passaram a avaliar essa possibilidade após as dificuldades sofridas com a greve dos caminhoneiros, no ano passado, que culminou com a tabela de frete mínimo e maior pressão sobre os custos.
Segundo fontes de montadoras e de empresas de locação de veículos pesados, após a greve e com a tabela de frete, cresceram as consultas de embarcadores interessados em compor uma frota própria e também de transportadores curiosos em conhecer as vantagens da locação de caminhões, ambos à procura de novas possibilidades para reduzir custos e garantir o escoamento da carga.
Gustavo Porto, CEO da Vamos JSL
“A greve trouxe um ponto de atenção para a indústria e para os embarcadores em geral. Mostrou a dependência de um sistema que está com a corda bastante esticada na relação com os autônomos e na questão do frete. O que eu percebi é que alguns embarcadores, em algum momento, pararam para pensar o quanto eles querem depender desse modelo. Não acho que estejam tomando alguma decisão em larga escala de, por exemplo, primarizar suas operações ou começar a operar frota própria, mas percebo que estão fazendo contas e procurando entender como esse modelo de locação, que ainda é novo no país, pode ajudar nesse sentido. Não percebi algo concreto de crescimento a partir da greve, mas vejo mais diretores de operação, diretores de logística, querendo entender o modelo de locação e pedindo propostas”, declara Gustavo Couto, CEO da Vamos, empresa de locação de caminhões, máquinas e equipamentos do Grupo JSL.
A Vamos é considerada a maior frota de caminhões alugados do país. Nos cerca de 350 contratos customizados, que envolvem perto de 11 mil ativos locados, a empresa tem 8 mil caminhões alugados, incluindo cavalos-mecânicos e carretas.
Vamos, locação de caminhões
Na avaliação do executivo da Vamos, o mercado de locação de caminhões no Brasil ainda é pouco explorado, principalmente se comparado aos mercados da Europa e Estados Unidos, onde o segmento é 20 a 25 vezes maior que o do mercado brasileiro, mesmo considerando as condições de taxas de juros mais baixas e o crédito disponível para compra de novos veículos naqueles mercados.
Mas ele assinala que o conceito vem evoluindo no Brasil, com um crescimento acima de 25 a 29% ao ano em número de caminhões alugados nos últimos três anos. Somente neste primeiro semestre de 2019, a empresa já assegurou um crescimento de 17% na frota locada, em comparação ao ano passado. “Estamos alugando cada vez mais veículos e no ano passado isso também aconteceu, independentemente do ciclo econômico”, declara Couto. “Somos uma alternativa para aquela empresa que precisa renovar a frota e não pode adiar essa decisão de forma indeterminada. Tanto em uma economia pujante quanto em uma economia mais recessiva, nosso modelo de negócio tem se mostrado bastante interessante”, afirma.
Um dos novos contratos que alavancaram o movimento de locação da Vamos no início deste ano foi com a Transportes Cavalinho, com matriz no Rio Grande do Sul, que aderiu à locação de frota.
Segundo Couto, a Cavalinho alugou um percentual importante da frota, equivalente a quase 20% do número total de veículos usados pela transportadora. “A Cavalinho viu na Vamos uma oportunidade de ampliar sua atuação através modelo de locação. Ela ganhou novos contratos e percebeu que fazia sentido alugar os veículos conosco. Procuro mostrar ao nosso cliente o quanto o modelo de locação faz sentido, ele não precisa colocar dinheiro em algo que não é seu cor business e é uma alternativa para renovação de frota e redução de custo. Quando ele compara o fluxo de caixa em cinco anos, entre comprar o equipamento e operá-lo ou alugar conosco com serviços de manutenção inclusos, percebe que a locação é muito mais barata, podemos chegar em até 30% de economia em cinco anos, dependendo do caso, sem falar na desmobilização desse equipamento ao término do contrato”, ressalta Couto.
A expectativa da Vamos é continuar crescendo nos próximos anos, porque este é um modelo ainda pouco conhecido e explorado no mercado nacional, com grandes oportunidades de expansão. “As empresas estão começando a conhecer esse tipo de solução. Até então, quando pensavam em operar uma frota não paravam para planejar o modelo de aquisição”, diz Couto. Além disso, ele destaca a questão cultural, já que no Brasil as pessoas ainda nutrem a mentalidade de que é preciso ter o ativo, mas estão cada vez mais se conscientizando de que não é necessária a posse do bem para uma boa operação.
A maioria dos clientes da Vamos é de embarcadores, indústrias e varejistas. Os negócios da empresa têm crescido nos segmentos agrícola e de prestação de serviços. No setor elétrico, por exemplo, algumas distribuidoras de energia elétrica de grandes capitais locam caminhões da Vamos para executar serviços urbanos. Redes varejistas também optaram por alugar veículos leves para fazer a distribuição de mercadorias dentro dos centros urbanos, comenta Couto. Nos últimos três meses, 50% dos novos ativos da Vamos foram direcionados para clientes do setor de agronegócio, incluindo cavalos-mecânicos, semirreboque, rodotrem e colhedoras.
Maior disponibilidade da frota
Uma das vantagens na locação da frota é a opção de delegar a manutenção dos veículos à empresa locadora, que fica encarregada de planejar as paradas de forma a entregar o máximo de disponibilidade dos veículos ao frotista, com o mínimo de paradas. No primeiro trimestre de 2019, a Vamos registrou aumento no número de contratos de locação com manutenção, que chegaram a 49% da frota alugada.
“O nosso serviço é garantir a disponibilidade da frota, por isso a importância de entrar com o veículo novo, com custo de manutenção baixo e disponibilidade alta. Quando o cliente contrata o serviço de manutenção, oferecemos a ele um índice de disponibilidade que é medido em contrato e que pode ultrapassar 95%, ou seja, ele tem a garantia de que aquela frota vai estar rodando quando ele precisar”.
Couto afirma que esse planejamento da Vamos ajuda, inclusive, a reduzir o número de veículos necessários na frota. “Existem vários clientes em que conseguimos reduzir entre 24 e 30% o número de equipamentos necessários, em uma mesma operação. Isso, basicamente, pela eficiência que nós conseguimos garantir para aquela frota através de uma manutenção adequada”, explica.
Couto ressalta que os grandes embarcadores têm a atividade de gestão de frota como uma atividade secundária e a manutenção acaba sendo preterida. “Eles acabam fazendo muita manutenção corretiva, eles não têm peças e mecânicos para fazer os serviços necessários, porque não é a atividade principal deles. Nós agregamos muito à operação do cliente quando fazemos o contrato de locação com o serviço de manutenção porque é possível reduzir custos de manutenção e diminuir a quantidade de equipamentos, simplesmente pela maior disponibilidade da frota”, afirma. Mais de 80% dos contratos da empresa têm cinco anos ou mais. “Isso nos ajuda a manter o negócio sustentável, o cliente sente-se confortável por saber que está com uma frota nova e que vai ter uma disponibilidade maior dessa frota”, diz o executivo.
A Vamos oferece três canais de manutenção para o cliente: através de uma rede de oficinas próprias ou da rede de manutenção das concessionárias; por meio de oficinas móveis que vão até o cliente ou de oficinas montadas in loco, dentro da garagem do frotista, com estoque de peças; e por uma rede de mais de 1.600 oficinas credenciadas em todo o país, gerenciadas por uma central de acompanhamento e controle de manutenção que fica em Mogi das Cruzes (SP), e que acompanha a vida de todos os caminhões, programando a manutenção desses carros.
Gestão de frota
Além da manutenção, a Vamos propõe cuidar de toda a gestão de frota com telemetria, rastreadores e oferece ainda serviços de roteamento. “Fazemos a roteirização para o cliente, colocamos todo o sistema de gestão de frota, com GPS embarcado para controlar a operação. Temos uma série de serviços e tecnologias a oferecer para nossos clientes, não só do ponto de vista da tecnologia embarcada, mas também de implementos para esses veículos”, comenta o CEO. A Vamos conta com uma rede de fornecedores de implementos rodoviários que, devido ao volume em escala e da recorrência com que a empresa adquire novos veículos, garantem condições diferenciadas em relação a preço e a prazo de entrega. Isso inclui desde implementos mais básicos, como carretas, até implementos específicos para um segmento, como para veículos adaptados à operação de empresas do sistema de distribuição de energia elétrica nos grandes centros urbanos, como Eletropaulo, Light e CPFL, que são clientes da Vamos.
“Como temos uma grande base de ativos locados, sabemos exatamente quando vencem esses contratos e quando vamos precisar adquirir novos veículos. Acabamos ajudando as montadoras e os implementadores a terem essa previsibilidade e, consequentemente, temos condições diferenciadas junto a eles para a compra desses equipamentos”, explica Couto.
A Vamos Locação trabalha com todas as marcas de caminhões do mercado nacional e a escolha é feita junto com o cliente, de acordo com o perfil de aplicação em cada operação.
Segundo Couto, o modelo de negócio da Vamos locação é de contratos de longo prazo voltados para frotistas e não para caminhoneiros autônomos. O autônomo acaba usufruindo da unidade de negócios de seminovos da Vamos, que comercializa os caminhões disponibilizados após o término dos contratos de locação, com idade média de cinco anos.
“O caminhoneiro autônomo, ou o pequeno frotista, tem a oportunidade de comprar um caminhão em ótimas condições para renovar seu equipamento. Hoje 90% do mercado secundário de caminhões tem idade superior a sete anos e mais de 60% tem idade média superior a 11 anos. Então, quando aparecemos no mercado com nossos caminhões que foram desmobilizados de um contrato de locação de cinco anos, estamos trazendo uma oportunidade para o caminhoneiro autônomo acessar um caminhão seminovo com excelente procedência, a custos bastante acessíveis”, pondera o executivo.
A Vamos Seminovos tem 11 lojas no país. O grupo possui também uma das maiores redes de concessionárias de caminhões e ônibus da marca Volkswagen/MAN, com 14 estabelecimentos.
Incentivo das montadoras
“Antes estávamos mais focados em frotistas não transportadores, mas agora percebemos uma demanda grande surgindo de transportadoras. Vale lembrar que por conta da queda na venda de veículos novos nos últimos três anos de recessão, a frota brasileira envelheceu bastante e as empresas começam a perceber no Grupo Vamos uma alternativa para a renovação de suas frotas. As próprias montadoras têm encorajado isso, têm estimulado que nós sejamos uma alternativa para aqueles clientes que precisam renovar a frota e não querem, ou não podem, fazer investimento naquele ativo”, declara Couto.
Para Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, a locação de caminhões ainda é pouco conhecida no país, mas vai passar a ser uma modalidade importante. “Com essa tabela de frete mínimo e com a vontade de geradores de carga passarem a ter frota própria, evidentemente a locação vai começar a tomar outra proporção aqui no Brasil”, declara o executivo. “A locação é forte em mercados bem maduros, como nos Estados Unidos e na Europa, onde tem representatividade muito forte, e agora está começando a ser discutida aqui no Brasil”.
Leoncini afirma que o grupo JSL sempre foi um cliente importante para a Mercedes-Benz e demais montadoras, com compras anuais totais em torno de 1.000 a 1.500 caminhões.
Mercado em crescimento
Para Paulo Miguel Júnior, presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), a locação de caminhões é um mercado em crescimento. “Vários setores perceberam que é muito melhor ter o bem para uso do que ter a propriedade dele. O custo intrínseco do negócio fica muito melhor e o frotista escapa de boa parte da burocracia e de manutenção já que, muitas vezes, esse serviço fica por conta da locadora. Além disso, ele tem sempre o caminhão disponível para utilizar quando precisa, com menos paradas”, afirma.
Entre os segmentos que têm se interessado pela locação, ele destaca o da construção civil, com aumento da frota locada para transporte de materiais de construção. “Já existem locadoras trabalhando até com frotas de caminhões elétricos para distribuição de carga no entorno da cidade de São Paulo”, assinala Miguel Júnior.
Segundo dados do Anuário Brasileiro do Setor de Locação de Veículos, a frota de caminhões para locação somava no ano passado 10.095 unidades. A Volkswagen/MAN tem a maior participação nesse montante, com 4.588 veículos, seguida pela Mercedes-Benz, com 2.635 caminhões. Em 2018 foram emplacados 1.886 caminhões para o setor de locação de veículos. (Futuretransport/Amarilis Bertachini)