O Estado de S. Paulo
Confiança, o fator mais escasso da economia brasileira neste momento, chegou em maio, no meio empresarial, ao menor nível desde outubro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Basta a política interna para travar o Brasil, mas o quadro internacional ainda poderá tornar tudo mais complicado. Indicadores dos Estados Unidos, da zona do euro e de outros grandes mercados mostram atividade abaixo da esperada por especialistas e piora das expectativas. Passados pouco mais de dez anos da grande crise iniciada em 2007-2008, o comércio global volta a perder vigor, prejudicado por tensões entre os maiores atores do mercado, pelo protecionismo e pela insegurança de investidores, financiadores e dirigentes de empresas.
No Brasil, o Índice de Confiança Empresarial medido pela FGV caiu 2 pontos em maio, para o nível 91,8, o mais baixo desde outubro, quando ainda se esperava o resultado das eleições. A queda acumulada a partir de janeiro chegou a 5,7 pontos e quase anulou a alta de 6,3 pontos verificada entre outubro e a instalação do novo governo. Os sinais de otimismo observados depois da eleição já se dissiparam. Não bastaram sequer para impedir a contração econômica de 0,2% no primeiro trimestre.
A piora das expectativas foi apontada também pelo índice de gerentes de compras da indústria (PMI, na sigla original em inglês) da IHS Markit, uma empresa global de informação e análise de condições econômicas. Esse indicador passou de 51,5 pontos em abril para 50,2 em maio, pouco acima da linha divisória entre as zonas positiva e negativa. Foi o menor nível em 11 meses – desde a superação de 50 pontos, a fronteira entre as duas zonas.
O mesmo indicador mostrou piora das expectativas em várias grandes economias, segundo informou a IHS Markit na segunda-feira. Nos Estados Unidos, o índice de gerentes de compras do setor industrial caiu de 52,6 pontos em abril para 50,5 pontos em maio. Foi a marca mais baixa registrada desde setembro de 2009, quando a economia americana apenas começava a reagir ao maior choque financeiro enfrentado em décadas. O quadro de fraco aumento de produção é complementado por uma forte redução de novos pedidos e pela piora das condições de emprego, segundo o economista-chefe da IHS Markit, Chris Williamson.
Na zona do euro, o PMI Industrial caiu de 47,9 pontos em abril (já na zona negativa) para 47,7, continuando perto dos níveis mais baixos em seis anos. No Reino Unido, a queda foi de 53,1 para 49,4 pontos, no primeiro recuo desde 2016. Na China, o indicador se manteve em 50,2 pontos em maio, quase na linha divisória entre as zonas positiva e negativa.
A economia chinesa tem sido prejudicada pelo conflito comercial com os Estados Unidos, mas ainda mantém um ritmo anual de crescimento próximo de 6%. Mas todos os envolvidos pagam ou podem vir a pagar um preço elevado pela piora das condições de mercado. Provocando retaliações e ainda elevando custos, por causa do encarecimento de insumos importados, o protecionismo poderá levar a economia americana a uma recessão em menos de um ano, segundo afirmou a clientes o economista-chefe para a Ásia do banco Morgan Stanley, Chetan Ahya.
O Brasil poderá vender à China parte dos produtos agrícolas normalmente fornecidos pelos Estados Unidos, mas, no conjunto, poderá perder com a briga entre seus dois maiores clientes. O terceiro maior, a Argentina, está em crise.
Mesmo com alguma melhora, a economia brasileira dificilmente crescerá muito mais que 1% neste ano, pelas avaliações de mercado. O Produto Interno Bruto (PIB) deve aumentar 1,13%, segundo a mediana das projeções captadas na pesquisa Focus do Banco Central. A incerteza sobre a reforma da Previdência é só um dos componentes da insegurança. O presidente continua pouco empenhado na articulação política e suas prioridades de fato, num quadro de alto desemprego, permanecem pouco claras. O cenário é ruim mesmo sem piora do mercado internacional. (O Estado de S. Paulo)