O Globo/Agências Internacionais
A indústria automotiva está no meio do fogo cruzado da guerra comercial, depois que, na noite de quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu impor tarifas sobre todos os produtos provenientes do México , um importante centro de produção para montadoras, da Mazda à General Motors. As tarifas mais elevadas começarão em 5%, no dia 10 de junho, e aumentarão mensalmente até atingirem 25%, em 1º de outubro, a menos que o México adote ações imediatas para combater a imigração, informou Trump.
O México é a maior fonte de importações de veículos e autopeças dos EUA, o que significa que as tarifas aumentariam os custos de praticamente todos os principais fabricantes. O presidente do México, Manuel López Obrador, disse nesta manhã que não responderá a nenhuma provocação e que será prudente com os EUA, acrescentando que disputas devem ser resolvidas pelo diálogo e que não há sentido em medidas coercitivas.
“As tarifas significarão preços mais altos nos veículos vendidos nos EUA, e isso afetará as vendas” disse Seiichi Miura, analista da Mitsubishi UFJ Morgan Stanley. “Embora o impacto seja diferente para cada montadora, todas elas se mudaram para o México”.
O American Automotive Policy Council, que representa as montadoras americanas em Washington, DC, disse que as novas tarifas prejudicariam os benefícios do novo acordo comercial proposto por Trump com o México e o Canadá, que depende do acesso isento de impostos.
“A imposição de tarifas contra o México vai prejudicar seu impacto positivo e imporia um custo significativo à indústria automobilística americana”, afirmou em um comunicado.
Os modelos importados do México incluem os caminhões Silverado, da Chevrolet, e Sierra, da GM, e as picapes Full, da Fiat Chrysler, os veículos mais lucrativos da indústria; caminhões de tamanho médio Tacoma, da Toyota; e os sedans Versa e Sentra, da Nissan, Jetta, da Volkswagen, e Mazda3.
Uma tarifa de 25% representa US$ 86,6 bilhões por ano, o que “poderia paralisar o setor e causar grandes incertezas”, escreveu Emmanuel Rosner, analista de automóveis do Deutsche Bank, em um relatório divulgado nesta sexta-feira.Mercados em alertaA medida anunciada por Trump colocou os mercados em alerta, com os investidores temendo que o agravamento da tensão comercial prejudique a relação entre os dois países, a economia global e leve a maior economia do mundo a uma recessão. O peso mexicano e os índices acionários tombaram com a notícia, incluindo as ações de montadoras japonesas que exportam carros do México para os EUA.
Os papéis da japonesa Toyota,e da coreana Kia Motors caíram mais do que seus respectivos índices de referência. As ações da Mazda, que é particularmente dependente do México, atingiram o menor nível desde 2013. Toyota, Honda, Mazda e Nissan perderam cerca de 1 trilhão de ienes (US$ 9,2 bilhões) em capitalização de mercado combinada nesta sexta-feira.
Na Alemanha, Volkswagen, Mercedes-Benz Daimler AG e BMW AG, juntas, perderam cerca de € 5,29 bilhões (US$ 5,9 bilhões) em valor de mercado. A Daimler fabrica caminhões pesados, ônibus e peças no país. A BMW está programada para abrir uma fábrica em San Luis Potosi na próxima semana, onde serão fabricados os sedãs da série 3 para o mercado americano a partir do final deste ano.
No Japão, a Bolsa de Tóquio fechou em queda de 1,63%, com Índice Nikkei somando 20.601,19 pontos. As ações da Toyota acompanharam a tendência, caindo 3%, enquanto as da Nissan tiveram queda de 5% e as da Honda, recuaram 4%. A Mazda sofreu um impacto maior, caindo 7%. Todas as quatro operam fábricas de montagem de veículos no México, produzindo aproximadamente um terço dos veículos fabricados lá.
Na Europa, os possíveis candidatos a fusões, a Fiat Chrysler e a Renault, lideraram a queda das montadoras, cada uma caindo 5%, enquanto os papeis da fornecedora automotiva Faurecia caíram 4% no final da tarde.
As bolsas americanas abriram com forte queda, golpeadas pelos efeitos da medida de Trump. O índice Dow Jones abriu com queda de 0,49%, perdendo 123,57 pontos e somando 25.046,31 pontos; já o S&P 500 caia 0,81%, a 2.766,15 pontos. O índice Nasdaq recuava 1,28%, atingindo 7.470,95 pontos. As ações da General Motors apresentava queda de 5,11% na sessão prévia à negociação eletrônica, enquanto os papeis da Fiat Chrysler recuavam 5,30% e os da Ford, 3,65%. No início do pregão, as ações da GM e da Ford caíram 4%, enquanto a fabricante de autopeças Delphi perdia 6%.
“Os principais fabricantes de veículos obviamente sentirão o impacto financeiro destas tarifas e as incertezas que geram porque a maioria deles importa do México uma parte significativa dos veículos vendidos nos Estados Unidos”, estimam os analistas do Deutsche Bank.Efeitos na ArgentinaO risco país argentino subiu, nesta sexta-feira, para níveis semelhantes aos observados cinco semanas atrás, em resposta ao mau humor dos mercados globais diante da imposição de tarifas pelos EUA sobre as importações mexicanas. Às 10h45m (hora local), o indicador do banco JP.Morgan subiu 38 unidades, para 980 pontos-base, em comparação com o nível de 1,012 unidades registrado em 25 de abril, o topo desde 2014. (O Globo/Agências Internacionais)