Brasil precisa estimular a exportação de veículos

O Estado de S. Paulo

 

A produção da indústria automotiva nacional está estagnada, o setor opera com alto nível de ociosidade, e as empresas estão revendo seus investimentos no Brasil. Para reverter esse cenário, dirigentes do segmento defendem a adoção de providências para estimular as exportações de veículos.

 

Segundo eles, uma medida poderia trazer resultado em pouco tempo. Trata-se da elevação da alíquota do Regime Especial de

 

Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras, o Reintegra, que devolve aos exportadores parte dos impostos pagos ao longo da cadeia produtiva. O presidente da GM América do Sul, Carlos Zarlenga, defende que a alíquota do Reintegra – que já foi de 3%, mas caiu nos últimos anos para 0,1% – seja elevada para 10%.

 

A medida poderia reduzir a desvantagem do Brasil em relação ao México na atração de investimentos (veja quadro). “Quando exporto um carro do Brasil, ele carrega 15% de impostos. Quando exporto do México, são 0,3%”, afirmou Zarlenga em entrevista ao Estadão no dia 6 de maio.

 

O setor automotivo conta com 67 indústrias em dez estados, que têm capacidade instalada para fabricar 5 milhões de veículos por ano, mas estão produzindo 2,9 milhões. De janeiro a abril, o resultado de aumento de vendas internas e queda de exportações para a Argentina, que se encontra em recessão, manteve a fabricação exatamente no mesmo patamar do período em 2018: 965 mil unidades.

 

Uma estratégia robusta de estímulo às exportações depende de medidas complexas, como a reforma tributária e a melhoria da infraestrutura do País. Mas as iniciativas de curto prazo dariam um impulso imediato em um segmento que representa 18% do PIB industrial brasileiro e tem alto potencial para reanimar outros setores.

 

Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a retomada da indústria automotiva terá impacto importante na geração de emprego e renda. Com 130 mil empregos diretos gerados pelas associadas, a Anfavea tem como missão estimular ainda mais a criação de postos de trabalho e riquezas para a sociedade, dentro de um ambiente de competitividade e sustentabilidade.

 

Perfil exportador beneficia o México

 

México e Brasil são os dois principais fabricantes de veículos da América Latina, mas suas indústrias têm perfis distintos, como mostrou estudo comparativo feito pela PwC, divulgado em maio. Lá, 88% da produção é voltada à exportação, especialmente para grandes mercados, como os EUA. Aqui, a produção se destina principalmente ao mercado interno: as exportações têm oscilado em torno de 20%.

 

De acordo com o estudo, além da proximidade com os Estados Unidos, o perfil exportador mexicano é incentivado por vantagens como um sistema tributário mais simples e menos dispendioso, maior abertura comercial e menores custos de logística.

 

A evolução da produção de automóveis de passeio nos últimos cinco anos reflete essas diferenças: no México, cresceu de 2,9 milhões para 3,9 milhões de veículos por ano. Aqui, caiu de 3,5 milhões para 2,7 milhões. Aumentar o peso das exportações brasileiras reduziria o nível de incerteza no setor, condição importante para os investimentos. (O Estado de S. Paulo)