O Estado de S. Paulo
Um dos principais empresários do País, Rubens Ometto Silveira Mello, controlador do Grupo Cosan, defende a quebra de monopólio de gás, que está em discussão no governo. Sócio da distribuidora de combustíveis Raízen, com a Shell, e dono da Comgás, Ometto diz que a Cosan tem interesse em fazer mais investimentos no setor de gás.
O governo estuda quebrar o monopólio da Petrobrás no gás. Como o sr. acompanha o assunto?
Tenho visto uma preocupação do governo em melhorar o sistema de distribuição, não só de combustíveis, mas também de gás. No caso do gás, o governo começou a buscar alternativas para a redução do preço.
Mas ainda há resistências…
Os ministros da Economia, Paulo Guedes, e o de Minas e Energia, Bento Costa Lima Leite, começaram a analisar e detalhar o programa. O custo do gás pode ser reduzido. O que acontece no Brasil é que todo o gás é produzido e majoritariamente distribuído pela Petrobrás. Isso dá poder à Petrobrás muito grande.
Como isso pode mudar?
Há planos de melhorar a infraestrutura. Há as rotas 1, 2 e 3(de escoamento de gás natural do pré-sal), mas é preciso investir mais para que as moléculas (de gás) cheguem às distribuidoras competitivas. Na distribuição (São Paulo e Rio de Janeiro são os Estados com grandes redes), é preciso criar mercado. A maioria das distribuidoras está com a Petrobrás e nas mãos dos Estados. O sistema tem de ser privatizado.
Mas muitos Estados podem perder receita. Como se resolve essa equação?
É melhor ganhar receita vendendo (o negócio) do que ficar disputando e investindo o dinheiro que não tem. Deixa para iniciativa privada. Com maior consumo, os Estados vão ter maior arrecadação.
Há interesse privado em investir em todos os Estados?
Tem de criar mercado, estimulando energia barata. É muito pior ter uma quantidade maior de gás do pré-sal e não ter o consumo. Para isso, é preciso ter a distribuição.
A Petrobrás começou a estudar mudanças. A iniciativa privada participa dessas discussões?
Não formalmente. Há conversas entre Petrobrás e o governo. O ministro Guedes tem a consultoria de (Carlos) Langoni, que mostra que o buraco é mais embaixo, (envolve) o custo da molécula e a falta de infraestrutura para distribuir esse gás. A iniciativa privada pode trazer investimentos.
A Cosan poderá investir mais e avançar para fora de São Paulo?
Sim, e pode também ampliar sua atuação no Estado de São Paulo. A Gás Brasiliano (da Petrobrás) atua em cidades importantes de São Paulo que poderiam ser grandes consumidores, mas não têm infraestrutura. Enquanto eles investem de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões por ano, a Comgás investe mais de R$ 800 milhões.
O que é preciso para levar esse assunto adiante?
Os governos estaduais e a Petrobrás têm de sair da distribuição. Os Estados não têm dinheiro, e a Petrobrás não tem interesse. É preciso investir em infraestrutura e na geração de gás. (Mas) a iniciativa privada não investe em países que não tenham segurança jurídica e não garantam a estabilidade reguladora.
Como se evita isso?
Não mudar o que foi estabelecido. Falei para o presidente (Jair Bolsonaro) que o empresário não liga quando perde dinheiro com erro de estratégia ou cálculo. Só não pode ter prejuízo por interferência política.
Mas Bolsonaro já sugeriu segurar o preço do diesel…
Apesar de as repercussões terem sido muito ruins à época, o presidente não teve problema de corrigir uma coisa que estava indo na direção errada. Ele ouve o Guedes, que é contra intervenção do Estado e a favor do livre mercado.
A economia está demorando a se recuperar. A Cosan pode rever investimentos?
Não. Acreditamos no País. Ficamos preocupados com algumas ondas políticas. Vamos deixar que as reformas sejam aprovadas e a segurança jurídica seja mantida.
As usinas de etanol no Nordeste defendem a venda do combustível diretamente no posto. Como o sr. vê esse movimento?
Quem defende isso tem a ideia errada de que a venda direta sai mais barata. É uma falácia, sem contar que a sonegação de imposto vai aumentar e arrecadação diminuirá. (O Estado de S. Paulo/Mônica Scaramuzzo)