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A indústria automotiva global passa por uma verdadeira revolução. Com agendas diferentes, mas igualmente importantes, as empresas terão que investir recursos em diversas áreas para acompanhar as demandas de quem agora está definitivamente no centro das atenções: o consumidor.
“A indústria automotiva sempre foi pautada para o produto e tinha o poder de decidir o que o consumidor queria. Mas o cliente está cada vez mais empoderado e, hoje, está definitivamente no centro do negócio”, avalia o líder do setor na KPMG do Brasil, Ricardo Bacellar.
Para ele, no Brasil e no mundo o consumidor passou a colocar na balança a posse do carro. “Trata-se de um custo muito alto de aquisição e manutenção, ainda mais em um cenário difícil de crise econômica como temos por aqui.” A isso, o executivo acrescenta a maior oferta de mobilidade nos grandes centros. “Em nível global, a cultura da posse do veículo está mudando. Já o desejo do brasileiro de ter um carro está diretamente ligado à oferta de mobilidade”, destaca.
Neste contexto, o especialista observa que a indústria já entendeu o situação. “Se as empresas apostarem no mesmo modelo de negócio, terão problemas. Os veículos continuarão sendo vendidos, mas cada vez menos rentáveis. E nem toda montadora conseguiria sobreviver dessa forma”.
Na busca pelo modelo certo, as montadoras e empresas da cadeia têm investido em pesquisa, novos segmentos e em startups. “A indústria está aplicando recursos vultosos para agregar serviços mais diversos. Estamos discutindo com as montadoras quais são essas alternativas e uma aposta errada vai custar caro”, avalia Bacellar.
Um exemplo recente dessa busca – e que afetou o Brasil diretamente – foi a decisão da Ford de sair globalmente do segmento de veículos pesados, o que resultou no anúncio de fechamento da fábrica de caminhões da marca em São Bernardo do Campo (SP).
“Há um movimento de descentralização dos polos automotivos no mundo todo, não só em São Bernardo. Agora, a cidade terá que ganhar em serviços, como de tecnologia, por exemplo, para aproveitar a base que tem. É um caminho inevitável”, analisa o consultor da Sell Out 3 Arnaldo Brazil.
Bacellar destaca que, no País, nenhuma grande marca tomou a decisão de fechar as operações como ocorreu na Europa, por exemplo. “Diversas fábricas e negócios foram reposicionados na indústria automotiva global. O que acontece no setor é só um reflexo do jogo”, assinala. (DCI/Juliana Estigarríbia)