O Estado de S. Paulo
A indústria brasileira deu mais uma prova de que continua com enormes dificuldades para superar a crise. Em março, a produção industrial caiu 1,3% em relação a fevereiro, o pior resultado desde setembro quando recuou 2,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado confirmou as mais pessimistas das previsões – analistas esperavam desde uma queda de 1,3% até uma ligeira alta de 0,1%, conforme pesquisa do “Projeções Broadcastst”.
Após a divulgação do dado, economistas disseram que aumentou a chance de o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre encolher em relação ao quarto trimestre do ano passado. O Itaú Unibanco, por exemplo, revisou sua projeção, que já era de queda de 0,1%, para um recuo de 0,2%. Analistas do Bradesco escreveram em relatório que o resultado ruim da indústria deu um viés de baixa para a projeção do banco, que também era de queda de 0,1% no PIB no primeiro trimestre.
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que esperava 0,30% de queda na produção industrial, o dado em si não tem força para alterar projeções de PIB, mas corrobora a baixa atividade econômica. “Somada a outros indicadores, (a produção industrial de março) ratifica um PIB de 1% no ano e uma Selic (a taxa básica de juros, hoje em 6,5% ao ano) de 6%”, disse Agostini. Para ele, o Banco Central deveria cortar os juros logo.
Em relação a março de 2018, o tombo na produção industrial foi de 6,1%, a maior queda desde maio do ano passado, quando fábricas pararam por falta de insumos em meio à greve dos caminhoneiros.
Para o IBGE, mais do que a magnitude da queda, o fato de o recuo na produção ter sido disseminado traça um cenário negativo para a indústria. A queda na passagem de fevereiro para março ocorreu em 16 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE.
Na comparação com março do ano passado, foi verificada em 22 das 26 atividades.
“Há um claro predomínio de atividades e categorias econômicas em queda”, afirmou o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo.
Quando se olha para o trimestre fechado, a produção caiu 0,7% ante o quarto trimestre de 2018. Em relação aos três primeiros meses do ano passado, encolheu 2,2%. Nessa base de comparação, a perda de ritmo vem desde o início do ano passado. No primeiro trimestre de 2018, a produção cresceu 2,8% ante os três primeiros meses de 2017, mas no quarto trimestre de 2018 já registrava queda de 1,2% em relação a igual período de 2017.
Para Macedo, do IBGE, o quadro de deterioração, desde o ano passado, é explicado pelas incertezas na economia, pelo desemprego elevado e pela crise econômica na Argentina, que atingiu em cheio as exportações, com destaque para a indústria automobilística, atividade de peso no setor como um todo. Para piorar, o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho (MG), em janeiro, atingiu a produção da indústria extrativa.
Na avaliação do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, o quadro de estagnação da economia é estrutural.
“A reforma da Previdência pode dar algum alento pela via da confiança, mas pode não ser suficiente para destravar esse quadro de estagnação. Enquanto não tiver redução da complexidade que existe no nosso quadro de impostos, dificilmente vamos ter ganho de produtividade que estimule a produção industrial e a atividade como um todo”, disse Rosa.
Representante da indústria de eletroeletrônicos, o presidente da Abinee, Humberto Barbato, faz coro com o economista. “Vai demorar bastante para voltarmos a ver sinais positivos no setor industrial. Projetos de investimentos existem, mas ninguém vai colocá-los sobre a mesa antes de a capacidade ociosa ser preenchida. Era para os políticos estarem tocando a proposta de reforma tributária com a previdenciária”, afirmou.
“Há um claro predomínio de atividades e categorias econômicas em queda”, André Macedo – gerente da coordenação de indústria do IBGE.
“Vai demorar bastante para voltarmos a ver sinais positivos no setor industrial”, Humberto Barbato – presidente da ABINEE. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder, Francisco Carlos de Assis, Maria Regina Silva e Thaís Barcellos)