Frotistas e locadoras puxam venda de carros

O Estado de S. Paulo

 

Ainda operando com alta ociosidade de 43% nos primeiros meses do ano, as montadoras seguem recorrendo a grandes frotistas e locadoras para desovar carros, apesar de considerarem que esse tipo de venda não é saudável, pois é feito com descontos que variam de 20% a 40% sobre o preço ao consumidor, segundo executivos do setor. Para ser eficiente, a sobra de capacidade deveria ficar na casa dos 20%.

 

O que parecia ser um desempenho na contramão da economia – com o PIB sendo revisto para baixo, desemprego resiliente e confiança do consumidor abalada –, o aumento de 9,4% nas vendas de janeiro até 22 de abril é frágil. Como os demais indicadores, mostra que a retomada do crescimento do País é mais difícil do que se imaginava.

 

Dos 761 mil carros e comerciais leves vendidos até agora, 43% foram por vendas diretas, mesma participação de todo o ano passado, a mais alta desde 2003, quando a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) começou a divulgar esse dado.

 

A participação é ainda maior quando é analisado apenas o mês de março, que teve 48% dos negócios feitos diretamente da fábrica.

 

A venda direta (ou corporativa) é feita por montadoras a frotistas e locadoras que compram grandes volumes e por meio de concessionários a produtores rurais, taxistas, pessoas com deficiência física e pequenas empresas. Por lei, esse grupo tem direito a isenção de impostos e consegue bônus das empresas em razão da concorrência no setor.

 

Esse tipo de venda reduz a margem de ganho das montadoras em comparação aos valores obtidos no varejo por meio de revendas, cujos descontos médios ficam na casa dos 10%, dependendo dos estoques.

 

Capacidade

 

O presidente da Bright Consulting, Paulo Cardamone, acredita que a participação das vendas diretas no mercado de veículos chegará próxima de 50% até o fim do ano. “A única coisa boa é que essas vendas ajudam a ocupar parte da capacidade das fábricas”, diz.

 

A ociosidade nas linhas de montagem também se mantém alta em razão da queda das exportações para a Argentina. O país adquiriu 133,2 mil automóveis brasileiros no primeiro trimestre de 2018, volume que este ano caiu para 62 mil.

 

Como não há perspectivas de melhora na economia argentina pelo menos nos próximos dois anos, a indústria brasileira deve continuar recorrendo às vendas diretas para usar parte de sua capacidade instalada de cerca de 5 milhões de veículos ao ano.

 

Nos últimos dez anos as vendas diretas apresentam desempenho superior ao varejo. No ano passado, esse canal de negócio cresceu 22,3%, somando 1,06 milhão de automóveis e comerciais leves, enquanto o varejo aumentou 8%, para 1,4 milhão de unidades. Em 2017, os negócios especiais tiveram alta de 28% e o varejo ficou estagnado.

 

“A única coisa boa é que essas vendas (feitas diretamente) ajudam a ocupar parte da capacidade das fábricas.” Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)