Globo Rural
A AGCO acredita ser possível as vendas de máquinas agrícolas crescerem entre 5% e 10% em relação ao ano passado, mesmo diante das incertezas no mercado. Na visão da empresa, dificuldades como a falta de crédito oficial verificada neste ano não são novidade e o produtor tem conseguido renda, apesar dos preços de commodities agrícolas em níveis mais baixos.
“A colheita de soja foi abaixo do esperado, mas foi uma safra boa. A safrinha deve ser excepcional. Os preços de soja não têm ajudado muito, mas a renda do agricultor é positiva e nossa expectativa é de que o mercado volte a crescer neste ano”, avaliou, nesta terça-feira (23/4), o presidente da AGCO América do Sul, Luis Fernando Felli, em encontro com jornalistas, em São Paulo (SP).
Um dos principais pontos de incerteza da indústria de máquinas agrícolas neste momento é a falta de recursos para o Moderfrota. No último dia 11, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu os pedidos de financiamento para a modalidade com taxa de juros de 7,5% ao ano. A linha financia produtores e empresas com faturamento anual de até R$ 90 anuais.
A decisão foi tomada duas semanas antes do início da Agrishow, uma das principais feiras de tecnologia agrícola do Brasil, que será realizada entre os dias 29 de abril e 3 de maio, em Ribeirão Preto (SP). A situação, pelo menos por enquanto, não afetou as previsões iniciais dos organizadores, que esperam um crescimento de 10% no volume de negócios em comparação com o evento do ano passado.
Luis Fernando Felli, da AGCO, avaliou que o ideal é não haver momentos de ruptura, como a indisponibilidade do crédito oficial. Reconheceu que a falta de recursos para o Moderfrota na safra 2018/2019 pode mudar a decisão de compra do agricultor e indicou não esperar que o governo faça aportes suplementares ao principal programa de financiamentos de máquinas e equipamentos no país.
O executivo lembrou, no entanto, que a Agrishow 2018 foi realizada em meio a incertezas relacionadas aos juros do crédito rural e as empresas fizeram negócios durante a feira. “Os fabricantes, os bancos privados, estão disponibilizando linhas de financiamento a juros de mercado, mas juros atrativos, até pela própria condição da Selic. O agricultor que não quiser financiar, no momento que houver a mudança (no Plano Safra), vai financiar, como fez no ano passado”, analisou o executivo.
Felli fez as afirmações em evento com a imprensa que marcou o anúncio da entrada da marca Fendt, do Grupo AGCO, no mercado brasileiro. A empresa está investindo R$ 150 milhões em uma operação baseada em Sorriso (MT), de onde será comandada também a operação no continente sul-americano. Na Agrishow, será feita a apresentação oficial dos produtos trazidos para o mercado brasileiro.
Questionado sobre possíveis efeitos da situação atual sobre esta fase inicial de negócios da marca no Brasil, o executivo reafirmou o otimismo. “Temos linhas de crédito que podem financiar o produtor em dólar e em euro e estamos com uma oferta bastante seletiva, com produtores específicos. Estamos muito animados.”
Governo menos tomador
Luiz Fernando Felli avalia que um ambiente mais favorável seria o que permite o mercado financiar o setor produtivo, sem a necessidade de recursos subsidiados. Para isso, é necessário que o governo faça os ajustes necessários nas contas do país, o que inclui a aprovação da reforma da Previdência, redução de despesas públicas e privatizações. “Se isso for feito de forma organizada, é positivo”, afirmou.
Com as contas ajustadas, o governo ficaria menos dependente de tomar dinheiro a juros no mercado financeiro e haveria mais recursos circulando na economia para financiar o setor produtivo. “A gente já começa a ver um apetite do banco privado para ocupar esse espaço. Minha visão de longo prazo é o mercado financeiro oferecer linhas competitivas que fazem sentido em termos de retorno para o produtor investir em suas máquinas”, avaliou. (Globo Rural/Raphael Salomão)