Correio Braziliense
Três grandes anúncios da indústria automobilística brasileira nos últimos dias – da Renault, Caoa Chery e Toyota – mostraram que o futuro do setor da mobilidade, com carros elétricos e híbridos, está mais perto do que nunca.
Um dia depois de a japonesa Toyota confirmar o lançamento do primeiro híbrido flex do mundo, um inédito Corolla que chegará às concessionárias em outubro deste ano, a francesa Renault revelou que não apenas aposta todas as suas fichas na motorização 100% elétrica como também na frota compartilhada. “Estamos plenamente cientes de que o nosso negócio não é mais só vender carros”, diz Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. “Precisamos entregar solução de mobilidade, com responsabilidade social e ambiental”.
Não é só. A Caoa Chery confirmou, durante o Salão do Automóvel da China, em Xangai, que vai tirar do papel uma agressiva estratégia de expansão no Brasil, com a duplicação da rede de concessionárias – de 65 para 111 unidades até dezembro – e o lançamento dos modelos elétricos Tiggo 2, Arrizo 5 e o subcompacto eQ1.
Esses automóveis estão em processo de homologação no Brasil, mas devem receber sinal verde ainda neste ano, segundo o diretor da Caoa Chery, Henrique Sampaio. “Tendo o fornecimento das baterias de lítio definido, seria preciso fazer uma pequena linha de produção em paralelo para montar alguns componentes”, diz o executivo.
O grande desafio da indústria do carro elétrico é o preço. O recém-lançado Zoe da Renault custa a partir de R$ 149.990. Por isso, o serviço no sistema de compartilhamento que a montadora passou a oferecer em São Paulo, na Vila Olímpia, será uma estratégia de aumento da escala de produção e, por consequência, redução dos custos.
“Os preços vão cair conforme o volume de produção do mercado subir”, diz Gondo. “Por razões óbvias, baterias e todos os componentes necessários para o carro elétrico dependem de ampliação do volume.” O preço de lançamento da novidade é de R$ 6 a cada 15 minutos de uso – bastante competitivo se comparado ao de empresas que oferecem serviços semelhantes na cidade, como a Zazcar e a Urbano, e interessante até em relação ao valor cobrado para rodar com os cada vez mais populares patinetes da Yellow e da Grin.
Na prática, a implementação do carro elétrico por parte das montadoras tem ocorrido em paralelo aos investimentos na infraestrutura de recarga das baterias. Um dos exemplos mais emblemáticos desse movimento é a parceria firmada entre a portuguesa EDP e a alemã BMW no Brasil.
Juntas, elas foram as financiadoras do corredor elétrico entre as duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro. Em conjunto, investiram R$ 1 milhão em seis equipamentos de recarga na Via Dutra, em parceria com os postos Ipiranga.
Estações gratuitas
A companhia portuguesa, que tem investido em projetos de energia renovável, também dá início a novos projetos. Em acordo com a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), prometeu investir R$ 350 mil para instalar sete estações gratuitas no estado do Sudeste.
Segundo Miguel Setas, CEO da EDP no Brasil, as condições para a popularização do carro elétrico estão sendo construídas a todo vapor. “Com carros tendo autonomia de mais de 200 quilômetros, e com postos de recarga da bateria em apenas 20 minutos, o ambiente para o estímulo ao carro elétrico está colocado”, afirma.
Outro corredor elétrico em operação foi montado pela paranaense Copel com a Itaipu Binacional e acaba de completar um ano de existência. Ligando o Porto de Paranaguá às Cataratas do Iguaçu, tem 740 quilômetros de extensão e 12 eletropostos, dos quais oito têm carregadores universais de recarga rápida. Dessa forma, é possível cruzar o estado do Paraná em um veículo elétrico.
Em um ano de operação, a eletrovia acumula mais de 300 recargas, com potência total consumida de 2,5MW. Isso equivale à energia suficiente para um veículo percorrer cerca de 10 mil quilômetros, deixando de emitir 1,81 tonelada de CO2 na atmosfera.
Esses projetos podem parecer precoces em relação à pequena frota de elétricos do Brasil. São menos de 10 mil carros, mas há estudos de que podem atingir entre 20% e 30% das vendas até 2030. Diversas iniciativas apontam para essa evolução.
Há alguns dias, a agência de energia (Aneel) aprovou uma chamada de projetos para participar de edital de pesquisa de desenvolvimento de mobilidade elétrica. O objetivo é estimular modelos de negócios que contribuam para o desenvolvimento de produtos e serviços nacionais na área, com viabilidade tecnicoeconômica. Pode participar qualquer empresa de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica que tenha contrato de concessão ou permissão para atuar no setor energético. (Correio Braziliense/Nelson Cilo)