O Estado de S. Paulo/Reuters/ Agências AFP e AP
O presidente dos EUA, Donald Trump, distanciou-se de sua ameaça de fechar imediatamente a fronteira dos Estados Unidos com o México, mas reformulou suas exigências ao país vizinho. Caso este não impeça a travessia de imigrantes ilegais, que Trump associa à entrada de drogas, ele prometeu taxar veículos mexicanos.
Na semana passada, Trump deu um ultimato aos mexicanos: ou interrompiam a entrada de imigrantes ilegais nos EUA ou ele fecharia a fronteira em uma questão de dias. “Não estou brincando”, avisou. Seu chefe de gabinete disse que seria necessário “algo dramático” para que o presidente mudasse de ideia.
O alerta preocupou empresários e economistas, que viram o risco de um prejuízo de até US$1,7 bilhão por dia caso a medida fosse colocada em vigor, segundo a Câmara de Comércio dos EUA. O México exporta 80% de sua produção automotiva para os Estados Unidos e o Canadá.
O presidente, no entanto, retrocedeu. “O México entende que ou fechamos a fronteira ou eu vou taxar os carros. Será um ou outro, mas provavelmente optaremos pelas tarifas”, disse.
O líder republicano ainda vinculou um possível fechamento da fronteira a um prazo de “um ano para que as drogas vindas do México deixem de entrar nos Estados Unidos”.
“Assim que tivermos as tarifas, se a imigração não parar, vamos dar um ano… Se as drogas (e os imigrantes) continuarem entrando, vamos pôr mais taxas”, disse. Trump planeja visitar hoje a fronteira em Calexico, na Califórnia. “Muitas coisas boas estão acontecendo com o México. O México entende que fecharemos a fronteira ou eu vou colocar tarifas sobre carros”, acrescentou.
Trump fez da extinção da imigração ilegal um dos pilares de sua campanha pela Casa Branca em 2016, prometendo construir um muro na fronteira para deter os imigrantes. Quando o Congresso recusou conceder o dinheiro para erguer o bloqueio, ele declarou uma emergência nacional para redirecionar fundos de outros projetos.
Reação
O governo mexicano, por sua vez, ressaltou que é muito importante manter separadas as discussões sobre assuntos migratórios e questões comerciais. “Às vezes o governo dos Estados Unidos mistura esses dois temas”, disse a secretária de Economia do México, Graciela Márquez. “Para nós, é muito importante manter a ratificação do tratado de livre-comércio de um lado e os temas migratórios de outro.”
Ainda de acordo com a secretária do gabinete de Andrés Manuel López Obrador, a discussão sobre taxas alfandegárias com os Estados Unidos deveria ocorrer na esfera do novo tratado comercial da América do Norte, o T-MEC, que substituirá o Nafta após um ano de negociações. O acordo trata de maneira distinta o comércio de manufaturas automotivas.
Separadamente, exportadores mexicanos disseram nesta semana que estão cogitando enviar seus bens aos EUA por via aérea para evitar uma fila de caminhões de oito quilômetros na divisa. Isso ocorreu porque Trump transferiu agentes federais das verificações alfandegárias para tarefas relacionadas à imigração.
Fabricantes de peças automotivas e equipamentos médicos estão entre as empresas mexicanas que estudam o transporte aéreo mais caro para evitar incorrer em penalidades por entregas atrasadas a clientes dos Estados Unidos. (O Estado de S. Paulo/Reuters/ Agências AFP e AP)