Gazeta do Povo
Durante a entrega de um lote de 160 chassis para ônibus que serão usados no sistema de transporte coletivo de Curitiba, na última sexta-feira (29), o diretor de Vendas e Marketing Ônibus da Mercedes-Benz esbanjava otimismo em relação ao momento do mercado brasileiro para o setor de pesados.
Duas semanas antes, Silvio Munhoz, diretor Comercial da Scania no Brasil, também era só sorriso ao falar das previsões para 2019, na entrega de seis biarticulados também na capital paranaense, os primeiros da marca vendidos no país.
A confiança dos dois executivos é compartilhada pelas principais fabricantes do ramo de ônibus. Todas projetam um ano ainda melhor que 2018, quando registraram 15.081 licenciamentos, o que significou o incremento de 28,3% nos negócios comparado ao ano anterior.
Para este ano, as montadoras falam em até 10% de alta, passando dos 16 mil exemplares novos nas ruas e rodovias. Na projeção da Anfavea (associação que reúne as fabricantes), o volume pode ser ainda maior, superando as 17 mil unidades de chassis de ônibus, o que representaria 13% acima do ano passado.
Seria o melhor desempenho em três anos, quando o setor registrou um tombo gigantesco, saindo de 27,5 mil unidades emplacadas em 2014 para 16,8 mil em 2015. Nos dois anos seguintes, o patamar ficou na casa dos 11 mil, só começando a se recuperar em 2018.
“O ambiente de negócio se mostra favorável, com o índice de confiança do transportador aumentando”, diz Luiz Carlos Moraes, presidente eleito da Anfavea para o triênio 2019-2022 e diretor de relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil.
“Há ainda a expectativa de retomada de privatizações e obras de infraestruturas, o que deverão demandar tanto caminhões quanto ônibus”, acrescenta o dirigente, diante da projeção para 2019 de 105 mil exemplares emplacados no segmento de transporte pesado (incluindo ônibus), contra os quase 88 mil de 2018.
As crises recentes diminuíram as vendas da indústria de veículos comerciais, mas desde o ano passado os volumes voltaram a aumentar.
“Vivemos um momento bom. Chegar nos patamares de antes da crise ainda é cedo para afirmar, mas nossa principal missão é ter clientes satisfeitos”, analisa Silvio Munhoz, da Scania.
Para Roberto Cortez, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, o pior momento do setor já passou e que o período agora é de recuperação. De acordo com o executivo, o momento favorável dá pela retomada da negociação com clientes antigos, com contratos fechados para este ano, e ainda pelo projeto do governo federal Caminho da Escola, no qual haverá o
fornecimento de 3,4 mil ônibus, que começam a ser entregues em 2019.
A fábrica da VW em Resende (RJ) voltou a operar com o segundo turno (de forma parcial) para atender à maior produção, após dois anos seguidos com turno único e capacidade ociosa na casa dos 70%.
A Scania, por sua vez, projeta um incremento próximo a 15% nas vendas de ônibus acima de 8 toneladas. A marca tem faixa forte atuação no transporte coletivo rodoviário, crescendo 45,6% em 2018 e ocupando a vice-liderança da categoria.
“O reaquecimento do fretamento é uma aposta da Scania. Há uma previsão de alta de 20% no transporte rodoviário, cujas operadoras vêm procurando investir em frotas mais modernas, serviços a bordo mais eficientes para cativar mais passageiros. A concorrência com o modal aéreo é muito grande, por isso é preciso fidelizar o cliente cada vez mais”, salienta Munhoz.
Para Fabiano Todeschini, presidente da Volvo Buses América Latina, os contratos de transporte devem recuperar equilíbrio financeiro. “Isso vai trazer mais previsibilidade aos frotistas e deve fomentar renovações de frota.
Ele ressalta ainda o impacto das parcerias público-privadas (PPPs), que têm sido muito citadas pelo novo governo e podem decolar como alternativa saudável para os transportes públicos, especialmente em BRTs.
Começo do ano em alta
Os números do primeiro bimestre são bastante animadores. Os emplacamentos de chassis de ônibus tiveram uma variação positiva de 84%, somando pouco mais de 4,1 mil unidades, quase o dobro dos 2,2 mil emplacados há um ano.
A Mercedes licenciou 1.481 unidades em janeiro e fevereiro, o que representa 47,1% acima aos 1.007 exemplares do mesmo período de 2018. Desempenho que faz a marca abocanhar quase metade de todo o segmento de ônibus acima de 8 toneladas de PBT (Peso Bruto Total).
“Cerca de 80% desse volume são para renovação e ampliação de frota do transporte coletivo”, afirma Walter Barbosa.
A elevação das vendas no setor de chassis para ônibus começou no ano passado, quando todas as fabricantes registraram aumentos de dois dígitos, com exceção da Iveco.
A Mercedes-Benz, por exemplo, emplacou quase 7,5 mil unidades, ficando na liderança com folga com 49,5% das vendas totais com setor.
A Volvo, por sua vez, apresentou um crescimento de 114% no segmento de ônibus pesados, sendo 86% de elevação apenas entre os rodoviários pesados, a maior alta do mercado neste segmento no ano passado.
Já a Scania cresceu 46,5% na faixa em que tem maior presença, acima de 8 toneladas de capacidade de carga. Foi o dobro do mercado, que teve alta de 21,3% neste segmento. Só chassis de rodoviários foram 702 exemplares dos total de 760 comercializado pela marca, o que garantiu pelo segundo ano consecutivo a vice-liderança na estrada – o mercado total de rodoviários emplacou 3.320 unidades (em 2017 foram 1.990). (Gazeta do Povo/Renyere Trovão)