Com ameaça de greve, estatal muda política de diesel

O Estado de S. Paulo

 

A Petrobras anunciou medidas favoráveis a caminhoneiros, que articulam greve. Empresa mudou a política de preços do diesel, uma das causas da crise de 2018, e criou o “cartão caminhoneiro”.

 

A Petrobras anunciou ontem duas medidas favoráveis aos caminhoneiros, que devem influenciar o movimento de greve articulado nas redes sociais. A petroleira se comprometeu a congelar o preço do óleo diesel nas refinarias por pelo menos 15 dias e ainda lançar um “cartão caminhoneiro” para a compra do combustível a um valor fixo nos postos da BR Distribuidora. A nova ferramenta deve funcionar como proteção contra a volatilidade de preços da estatal, que acompanha as oscilações do mercado externo. Apesar do anúncio, a articulação para a greve ainda permanece em alguns grupos do WhatsApp.

 

Por causa da política de preços de combustíveis da Petrobrás, os caminhoneiros pararam o País, em maio do ano passado. Neste início de ano, com o petróleo em alta, o diesel voltou a ser uma ameaça e mais uma vez a classe avalia cruzar os braços. O aumento nas refinarias foi de 15,6% e, nas bombas, de 3,6%.

 

O problema começou ainda na gestão do ex-presidente da companhia Pedro Parente que, para recompor o caixa, determinou a revisão diária da tabela nas refinarias, em linha com o mercado internacional.

 

Sem saber o preço que pagariam pelo combustível no fim de uma viagem, os caminhoneiros entraram em greve e Parente perdeu o cargo. Além disso, para encerrar os protestos, o governo ainda subsidiou o combustível por um semestre. Apenas em 2019, o diesel voltou a ser reajustado semanalmente. Ontem, sob ameaça de nova greve, a Petrobrás anunciou que vai anunciar os reajustes, agora quinzenalmente.

 

A pauta de reivindicações da classe tem três focos. O primeiro pedido diz respeito ao piso mínimo da tabela de frete. Os caminhoneiros reclamam que as empresas têm descumprido o pagamento do valor mínimo e cobram uma fiscalização mais ostensiva da ANTT. O segundo é o preço do óleo diesel. Os motoristas querem que o governo estabeleça algum mecanismo para que o aumento dos combustíveis, que se baseia no dólar, seja feito só uma vez por mês. O terceiro item diz respeito à construção de mais estruturas de paradas de descanso para os caminhoneiros.

 

O anúncio de ontem da Petrobrás atende em parte as demandas, mas por isso não é por si só uma garantia de suspensão da greve. Mesmo no que se refere exclusivamente ao valor do combustível, representa um aceno parcial de que vai se ajustar às reivindicações. Em vez de um mês, a empresa garantiu 15 dias de congelamento, embora o preço possa permanecer inalterado indefinidamente.

 

Cartão

 

Além disso, a empresa sinalizou com um novo mecanismo de proteção às oscilações internacionais das commodities. Em até 90 dias, vai lançar, com a subsidiária BR Distribuidora, o “cartão caminhoneiro”, que vai permitir a compra do combustível a um preço fixo por um período ainda não definido. Os detalhes de como funcionará a ferramenta ainda estão sendo analisadas e vão ser anunciadas pela empresa.

 

Leonardo Gadotti, presidente executivo da Plural, entidade que reúne distribuidoras do porte da BR, Raízen e Ipiranga, não vê problemas para a concorrência de mercado.

 

Segundo ele, desde que os ajustes de preço não sejam previamente anunciados e continuem tendo como parâmetro o mercado internacional, os investidores não serão contra esta iniciativa.

 

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) Adriano Pires, as novidades anunciadas têm tudo para não dar certo. “Acho que não vai funcionar. Quem vai bancar o diferencial de preços para cima? E quando o preço na bomba estiver menor do que o caminhoneiro pagou? Estes artificialismos não funcionam”, afirmou. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes Denise Luna)