Jornal do Comércio-RS
Após quatro anos demonstrando queda nas vendas diante de um cenário de crise, o segmento de máquinas agrícolas, em 2018, deu o primeiro sinal de crescimento com a comercialização de um total de 47,8 mil unidades, configurando uma alta de 12,7% sobre 2017. Há sinais positivos para 2019 advindos dos resultados de negócios em eventos importantes do agronegócio no início do ano, dentre eles, o Show Rural Coopavel em Cascavel (PR) e a Expodireto Cotrijal em Não Me Toque (RS). Entretanto, a principal incerteza reside em uma questão antiga que impacta o segmento: o possível término dos recursos subsidiados para financiamento de equipamentos.
Desde o ano 2000, a principal linha de crédito oferecida para a compra de máquinas agrícolas com recursos do BNDES é o Moderfrota, com juros subsidiados pelo governo federal. No passado, a importância do programa para o desempenho de equipamentos agrícolas foi notável. Como resultado, o número de tratores no campo aumentou entre 2006 e 2017 em mais de 50%, superando a marca de 1,2 milhão de unidades, segundo dados preliminares do Censo Agropecuário realizado pelo IBGE.
A perspectiva para a continuidade do programa, ou a substituição por outra fonte de financiamento em condições similares, entretanto, revela um cenário de incertezas e dúvidas para a indústria, os agentes financeiros, as concessionárias e os produtores rurais. Dada a natureza de longo prazo da aquisição de equipamentos para a produção, o que os agentes deste segmento deveriam esperar para os próximos cinco a 10 anos? A aposta mais plausível estaria em considerar a descontinuidade de tais fontes de financiamento. No macroambiente econômico, considera-se uma maior probabilidade de um cenário de estabilidade nas taxas de juros de longo prazo, tendo como base os níveis atuais, sem os solavancos históricos de fortes altas observados em anos passados.
Neste novo cenário, apresenta-se uma nova possibilidade para o segmento de máquinas agrícolas sustentar seu crescimento, estruturalmente menos dependente de subsídios governamentais e baseada em soluções de mercado. Nesse sentido, cada elo da cadeia produtiva, individualmente e em ações conjuntas, deverá buscar modelos alternativos para o financiamento de equipamentos agrícolas. Dentre os exemplos de novos caminhos, pode-se citar o financiamento de máquinas com recursos do mercado de capitais, lastreados em recebíveis do agronegócio, uma tendência observada para o setor agro como um todo. Ademais, o incremento de modalidades de vendas utilizando ferramentas como o Barter (troca por grãos como moeda de pagamento), traria benefícios aos produtores rurais pela conveniência na contratação e proteção contra a variação dos custos de produção em relação ao preço dos produtos.
A competitividade global do agronegócio brasileiro, que levou o País a posição de liderança atual, depende da renovação dos bens de capital utilizados dentro da porteira, pois são fontes de inovação e sustentabilidade da produção nacional. (Jornal do Comércio-RS/Ernani Carvalho da Costa Neto, sócio da Bateleur)