O Estado de S. Paulo
Em meio ao anúncio de fechamento da fábrica da Ford no ABC paulista, e de negociações da General Motors para reduzir custos e manter investimentos no País, a indústria automobilística registrou aumento de 5,3% na produção do primeiro bimestre, para 455,5 mil unidades, atingindo o melhor resultado de 2014. As vendas no mesmo período cresceram 17,8%, somando 398,4 mil veículos, melhor desempenho desde 2015.
A perspectiva de retomada mais consistente da economia, melhor oferta de crédito e juros mais baixos contribuem para a melhora do mercado. A recuperação na produção só não é melhor porque as exportações seguem ritmo contrário, com queda de quase 42% – para 65,5 mil unidades, puxada pela crise do mercado argentino.
Anfavea
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o aumento da produção levou as montadoras a contratarem 514 funcionários, elevando para 131 mil o total de trabalhadores.
O fechamento da fábrica da Ford até o fim do ano, conforme anúncio da empresa, vai alterar o nível de emprego no setor, já que ela emprega diretamente 3 mil pessoas no ABC.
“Foi uma decisão estratégica da empresa e o impacto será grande, principalmente na região do ABC”, diz o presidente da Anfavea, Antonio Megale. “Vamos torcer para que se encontre uma solução para diminuir o impacto na mão de obra”. Há negociações em andamento entre grupos interessados em adquirir as instalações e manter atividades produtivas no local.
Nesta segunda-feira, 11, sindicalistas que viajaram aos EUA na semana passada para falar com a direção mundial do grupo fazem assembleia no portão da fábrica, às 7h, para falar do resultado do encontro.
Incentivos
O programa IncentivAuto, anunciado pelo governador João Doria (PSDB) na sexta-feira, estabelecendo desconto de até 25% no ICMS para montadoras que anunciarem novos investimentos no Estado (acima de R$ 1 bilhão) “é positivo”, diz Megale, mas não resolve a maior preocupação do setor que, hoje, é a devolução de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões em créditos de ICMS pertencentes às empresas e que estão represados no governo. Algumas empresas têm cerca de R$ 1 bilhão retido e aguardam a devolução para aplicar em novos projetos.
Outro tema que aflige o setor é a renovação, até dia 19, do acordo com o México. A partir dessa data deveria entrar em vigor o livre comércio de carros entre os dois países. A indústria brasileira quer adiar o processo por considerar que a competitividade da indústria brasileira é muito inferior à do parceiro, que tem a maior parte de sua produção exportada para os EUA.
“Nossa proposta é ampliar as cotas até resolvermos questões como a de conteúdo local”, explica Megale. Diferente do passado, hoje o Brasil importa mais do que exporta para o México. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)