O Estado de S. Paulo
Governos federal, estadual e municipal cobraram na quinta-feira, 7, da direção da Ford no Brasil um plano detalhado sobre o fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, anunciado há duas semanas. O objetivo é ter argumentos para tentar reverter a decisão. Só o município que abriga a montadora há 51 anos calcula que deixará de movimentar R$ 1,4 bilhão ao ano com o fim da produção e demissão de trabalhadores.
A cobrança mais taxativa, segundo participantes do encontro, veio do secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos Costa. Ele se reuniu na quinta-feira em São Paulo com o presidente e o vice-presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters e Rogelio Goldfarb, respectivamente. Também participaram a secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patricia Ellen da Silva, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando.
Protesto Ford
Morando disse esperar que a pressão por parte do governo federal leve a Ford a dar detalhes de seu projeto. “Até agora só sabemos que a empresa quer fechar as portas até o fim do ano, mas não há detalhes, por exemplo, de quanto será produzido até lá ou quantos funcionários serão mantidos na área administrativa, que permanecerá na cidade”, afirmou. “Só sabendo o plano poderemos saber o que fazer para tentar ver se é possível reverter a decisão.”
Nas contas do prefeito, com base na renda dos cerca de 3 mil trabalhadores diretos e 1,5 mil terceirizados da Ford, deixarão de ser injetados anualmente na cidade cerca de R$ 1,4 bilhão. “Haverá uma desaceleração enorme da economia local.”
Costa já disse que o governo federal não vai intervir na decisão da Ford, mas ajudará na requalificação dos trabalhadores. Também negou oferta de qualquer incentivo fiscal. Do prefeito, contudo, ouviu críticas à manutenção de incentivos à fábrica da Bahia, onde a produção de carros será concentrada.
A Ford e a Fiat foram as únicas montadoras beneficiadas pela prorrogação, até 2025, de incentivos para empresas do setor instaladas no Nordeste, após manobra de políticos da região que conseguiram incluir o tema no programa Rota 2030, lançado no fim do governo Temer.
Segundo Morando, os executivos da Ford insistiram na justificativa de que a operação local é deficitária, mas ficaram de marcar nova reunião. A Ford não comentou o assunto.
Protesto
Em paralelo à reunião em São Paulo, sindicalistas se encontraram na quinta à tarde com dirigentes da matriz da Ford nos Estados Unidos na tentativa de reverter o fechamento da fábrica brasileira. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, até o início da noite a reunião não havia terminado.
Em São Bernardo, funcionários e familiares realizaram passeata na manhã de quinta-feira da sede do sindicato até a praça da igreja matriz, palco de diversas manifestações na região.
Por questões de segurança, segundo o sindicato, a produção da fábrica está parada o anúncio do fechamento, que deve ocorrer até o fim do ano. A unidade produz caminhões – segmento em que a marca atua só no Brasil e na Turquia (em parceria com empresa local), e o modelo Fiesta, que sairá de linha. A Ford diz que a fábrica opera com 20% de sua capacidade. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)