Perspectivas para o mercado financeiro em março

O Estado de S. Paulo

 

O jogo para a votação da reforma previdenciária pelo Congresso começa para valer agora, depois do carnaval. Por enquanto é apenas um aquecimento, mas a movimentação dos deputados em torno das propostas de mudança nas regras de aposentadoria atrairá cada vez mais a atenção e provocará inevitáveis reflexos no dia a dia do mercado financeiro.

 

Investidores se ocuparão de fazer e refazer as contas em busca dos parlamentares que apoiarão o projeto do governo. A aprovação exigirá votos favoráveis, em duas votações, de três quintos do total ou 308 deputados (do total de 513 da Câmara) e de 49 dos 81 senadores.

 

Outro foco de atenção são mudanças em pontos das propostas que podem levar à desidratação, flexibilização, diluição, esvaziamento e outras expressões que têm como significado comum tornar a reforma menos dura ou impactante do ponto de vista da necessidade de corte de despesas para o ajuste das contas do governo.

 

A equipe econômica chefiada por Paulo Guedes estima que o conjunto de medidas, como foi enviado ao Congresso, geraria uma economia de recursos em torno de R$ 1 trilhão em dez anos. Nas contas do mercado financeiro, uma economia acima de R$ 600 bilhões seria razoável para pôr um freio no aumento explosivo da dívida pública.

 

A trajetória do projeto no Congresso será demorada. Começará na Câmara, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que ainda nem sequer tem os nomes dos integrantes indicados, onde será avaliada a constitucionalidade das mudanças propostas. A expectativa é que a votação na Câmara esteja concluída no fim do primeiro semestre.

 

Durante esse período, especialmente os segmentos de ações e dólar tendem a passar por forte instabilidade, com altas e baixas pelo caminho, sem definição de tendência, até que seja arredondado o texto final para votação.

 

Se os sinais vindos do Legislativo indicarem que alterações no projeto vão gerar uma economia insuficiente para o controle e ajuste do déficit público, o mercado financeiro deverá reagir negativamente, com desvalorização da bolsa de valores e alta do dólar.

 

A reação, contudo, seria positiva, com alta da bolsa e queda do dólar, se as propostas consolidadas na Câmara apontarem para uma reforma previdenciária bem-sucedida, capaz de levar a uma correção efetiva na rota das contas do governo.

 

Do radar do mercado não faz parte a hipótese, considerada impossível por todos, embora não totalmente improvável, de frustração da reforma previdenciária, cenário que faria disparar o dólar, com pressão sobre a inflação, o que exigiria a retomada da elevação da taxa de juros e empurraria o País de novo à recessão.

 

Apesar das incertezas que rondam o horizonte, um olhar para o passado em direção ao desempenho recente da bolsa de valores – alta de 15% em 2018 e de 10,8% apenas em janeiro, com alta acumulada total de 27,4%, comparada com uma taxa Selic acumulada de 7% nesse período – seduz o investidor que acredita e aposta na aprovação da reforma, evento que poderia dar forte impulso ao mercado.

 

Uma diferença colossal no desempenho entre a renda fixa, referenciada na Selic, e a renda variável funciona como chamariz que torna quase irresistível o apelo das ações. Especialistas sugerem ao investidor que deseja tomar o rumo da renda variável que procure um fundo de ações, em vez da compra individual para formar uma carteira própria de ações.

 

A falta de clareza sobre o rumo da reforma, pelo peso e impacto que as mudanças nas regras da aposentadoria teriam sobre a economia como um todo, traz dificuldades à escolha das ações mais interessantes para a compra, reconhecem especialistas.

 

Daí a indicação pelo fundo de ações, em que o investidor participa como cotista de uma carteira balanceada de papeis que dilui os riscos de perda – a alta de algumas ações tende a compensar a desvalorização de outras e, em momento positivo, o investidor obteria rentabilidade média atraente.

 

Há uma diversidade de fundos dessa modalidade ofertados no mercado, por bancos e corretoras e mais recentemente pelas plataformas de investimento, de corretoras e bancos digitais. (O Estado de S. Paulo/Regina Pitoscia)