Trabalhadores repudiam ameaça da GM

AutoIndústria

 

Emitido na última sexta-feira, 18, o comunicado do presidente da General Motors Mercosul, Carlos Zarlenga, que sugere que a montadora poderá se desfazer de suas operações na região caso não volte à lucratividade, foi recebido com indignação pelos trabalhadores.

 

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região diz, em nota oficial, que “a GM instaura um clima de apreensão entre os trabalhadores, afirmando que 2018 foi um ano de prejuízos para as plantas da América do Sul e que 2019 será decisivo para o futuro da fábrica”.

 

“Os planos de reestruturação mundial da empresa são dignos de repúdio de toda a sociedade. Em nome do lucro, a GM pretende demitir milhares de pais e mães de família em sete fábricas nos Estados Unidos, Canadá e, pelo que se sinaliza, América do Sul. Se for concretizada, a medida levará as cidades atingidas a passarem por inevitáveis tragédias sociais”, afirma o sindicato, que conclamou os funcionários a “lutarem” contra o fechamento das fábricas.

 

Procurada por AutoIndústria, a General Motors disse que não se manifestará a respeito. Ontem, a montadora deve se reunir com representantes dos sindicatos de São José dos Campos e de São Caetano do Sul, bases de duas das cinco fábricas da empresa no Brasil – tem ainda unidades em Mogi das Cruzes (SP), Joinville (SC) e Gravataí (RS). O encontro está marcado para a cidade do Vale do Paraíba.

 

O comunicado de Zarlenga, que afirma que a empresa tem colhido prejuízos nos últimos anos, chama atenção por vários aspectos: a GM é líder do mercado brasileiro com 17,5% de penetração, tem o carro mais vendido do País nos últimos quatro anos e encaminha investimentos para produzir uma nova geração de veículos nas plantas locais.

 

Há menos de um ano, a GM informou que iniciara obras para ampliar a capacidade produtiva de São Caetano do Sul de 250 mil para 330 mil veículos anuais. E no site brasileiro da montadora, o maior destaque nesta segunda-feira, 21, é ainda o texto que afirma que Mark Reuss, presidente da General Motors, confirmou mundialmente em 11 de janeiro o lançamento “a partir deste ano, de uma nova família global de veículos de alto volume”.

 

Exatamente os produtos que começarão a sair das plantas brasileiras e também chinesas. “Até 2020”, diz a GM no comunicado, “estes novos produtos vão representar um em cada dez automóveis vendidos pela GM no mundo. Até 2023, esta proporção subirá para um em cada cinco veículos comercializados, sendo 75% do volume total da companhia na América do Sul e 20% na China”.

 

O chamado Projeto GEM, de sigla para Global Emerging Markets, dará origem aos sucessores, dentre outros produtos, do Onix, Prisma e Tracker. Portanto, os discursos de Zarlenga e da própria CEO Mary Barra, citada pelo dirigente da operação sul-americana em seu comunicado, parecem contradizer a disposição e projeções reveladas por Reuss uma semana antes.

 

Exatamente por isso, críticos avaliam que o alerta de Zarlenga, afixado inclusive nas paredes das fábricas, é mera pressão da montadora para obter maior flexibilidade em futuras negociações com os trabalhadores brasileiros e argentinos e também com os governos dos dois países em busca de melhores resultados financeiros a partir deste novo ciclo de produtos. Uma visita de Mary Barra ao Brasil está sendo agendada para breve.

 

A atual geração de automóveis e comerciais leves produzidos nas plantas brasileiras já está em seu sétimo ano de mercado. Mesmo com a chegada de concorrentes mais modernos neste período, o hatch Onix é o líder folgado de vendas no País.

 

No ano passado superou 210,4 mil emplacamentos, o dobro do segundo colocado o Hyundai HB20, lançado quatro anos depois. Sua versão sedã, o Prisma, foi o quinto carro mais vendido em 2018, com 71,7 mil licenciamentos.

 

Juntos, assim, Onix e Prisma representaram 65% dos mais de 434 mil veículos vendidos com a marca Chevrolet no mercado interno. Tamanha dependência de dois produtos de segmentos menos lucrativos é apontado com um dos eventuais motivos do alegado prejuízo da operação sul-americana.

 

De qualquer forma, independente dos números regionais, a GM vem encaminhando movimentos globais para aumentar sua lucratividade. Nos últimos meses, anunciou a retirada de linha de alguns veículos, fechamento de cinco fábricas na América do Norte e admitiu, sem citar o país, o intuito de encerrar as atividades de outras duas.

 

Há apenas dois anos a montadora estadunidense vendeu a europeia Opel para a francesa PSA. Foi com produtos da marca alemã que a GM constituiu seu portfólio de veículos oferecidos no Brasil desde o fim da década de 60 até a chegada do Onix e companhia. Agora, a partir do Projeto GEM, a base dos Chevrolet fabricados – ou apenas vendidos – na América do Sul será chinesa. (AutoIndústria/George Guimarães)