Diário do Comércio
Depois de quatro anos seguidos de queda, o setor de máquinas e implementos agrícolas finalmente viu suas vendas voltarem a crescer em 2018. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a comercialização dos produtos chegou a 47,8 mil unidades em 2018, alta de 12,7% sobre as 42,4 mil unidades vendidas em 2017. A projeção para 2019 é de nova alta, na ordem de 10,9%. O problema, porém, é que os recursos para financiamento podem acabar antes do que o atual Plano Safra, praticamente inviabilizando as vendas por meses.
A entidade mais ativa na questão tem sido a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que alerta para o possível problema desde novembro do ano passado. “A indústria está vendo que, do jeito que está, estaremos sem recursos a partir de março”, argumenta o presidente da Abimaq, João Carlos Marchesan. A preocupação reside no Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), que precisaria de um reforço de mais R$ 3 bilhões para atender a toda a demanda, segundo Marchesan.
O Moderfrota é uma linha de crédito para a compra de tratores, colheitadeiras, plantadeiras e pulverizadores, entre outras máquinas, com juros subsidiados pelo governo federal. Neste Plano Safra, os juros foram estipulados em 7,5% a.a. e 9,5% a.a., dependendo do faturamento do agricultor, com prazo para pagamento de sete anos para itens novos e quatro anos para usados.
Apenas no primeiro semestre deste ano-safra, os agricultores brasileiros já consumiram 59,2% do total de recursos disponibilizados pelo governo federal para o Moderfrota. Entre julho e dezembro, foram utilizados R$ 5,27 bilhões dos R$ 8,9 bilhões liberados para todo o ciclo, segundo a União. Nesse ritmo, o financiamento não chegará até o fim do junho, quando se encerra o ano-safra.
“Os recursos vão acabar, provavelmente, na Expodireto”, projeta o dirigente, referindo-se à feira que acontece em Não-Me-Toque entre 11 e 15 de março. A maior feira do País, a Agrishow, que acontece em Ribeirão Preto (SP) em maio, pode ocorrer sem financiamento disponível pelo programa, caso a projeção se confirme.
O resultado, por um lado, exemplifica o aquecimento do setor. No mesmo período de 2017, por exemplo, apenas R$ 3,5 bilhões haviam sido utilizados pelos produtores dentro do mesmo programa. “Houve uma demanda muito forte, o que é um bom sinal. Pior seria se tivesse dinheiro sobrando e não estivéssemos vendendo”, comenta Marchesan. Por outro lado, porém, significa um risco de, pelo menos, três meses com o pé no freio, caso nada seja feito até lá. As entidades que representam o setor buscam algum tipo de suplementação de recursos junto à União, mas, por enquanto, não há sinalização de atitudes.
O presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, argumenta que o ano começou esperançoso, “mas o governo não pode atrapalhar”. “O setor não vai parar, mas vai dar uma recuada. Compromete o ano”, acrescenta Bier sobre o potencial impacto do fim dos recursos.
Marchesan é ainda mais enfático, classificando o cenário como um “caos” para as indústrias. “Todas aumentaram a produção, contrataram, captaram capital de giro. Sem financiamento, ninguém vai investir em renovação de máquinas”, afirma o presidente da Abimaq, que vê nesse, atualmente, o único problema do setor. Com três meses sem financiamentos, o setor levaria mais, pelo menos, outros seis meses para normalizar as vendas, estima Marchesan, basicamente comprometendo todo o ano de 2019. “Recurso existe. São as decisões políticas que limitam os recursos”, sustenta o dirigente. (Diário do Comércio)