O Estado de S. Paulo
A indústria automobilística brasileira encerrou 2018 com produção de 2,88 milhões de veículos, alta de 6,7% em relação ao ano anterior. É o segundo crescimento anual seguido, mas o volume ficou abaixo do inicialmente projetado pelas montadoras, que era atingir 3 milhões de unidades.
A queda da exportação, principalmente para a Argentina, foi apontada como responsável pelo desempenho inferior. Para este ano, o setor prevê crescimento de 9% na produção, para 3,14 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
As vendas externas somaram 629,2 mil unidades, 17,9% a menos em relação a 2017. O dado negativo ocorre após três anos de altas seguidas que culminaram com exportação recorde de 766 mil veículos no ano passado. Em valores, a queda foi de 8,6%, para US$ 14,5 bilhões.
A Argentina fica com 70% das exportações brasileiras e enfrenta uma crise econômica, que deve continuar neste ano. Em razão disso, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê nova baixa em 2019, para 590 mil unidades.
O principal dado positivo para a indústria automobilística veio do mercado interno, que cresceu 14,6% – acima dos 13,7% esperados inicialmente –, somando 2,566 milhões de veículos. Neste ano, a previsão é de novo aumento de 11,4%, para 2,86 milhões de unidades.
“Chegamos a essa conta com base nas premissas de que o PIB de 2019 deve ficar entre 2,5% e 3,0%, as condições de crédito, juros e inflação continuarão razoáveis e a confiança dos investidores e dos consumidores continuará crescente”, diz o presidente da Anfavea, Antonio Megale. Ele também coloca no cálculo, entre outros itens, a expectativa de aprovação de reformas, principalmente a da Previdência.
Mesmo com a produção maior esperada para este ano, o setor automotivo deve operar com alta ociosidade, perto de 40%, já que as fábricas estão preparadas para produzir até 5 milhões de veículos por ano. “O lado positivo é que, se precisarmos ampliar a produção, não serão necessários grandes investimentos”, afirma Megale. Segundo ele, na maioria dos casos será preciso apenas abrir novos turnos e fazer algumas contratações.
Empregos
O número de empregos também melhorou pelo terceiro ano seguido e cresceu 1,7%. Foram abertas 2.176 vagas nas fábricas de veículos e máquinas agrícolas. Só no último trimestre, porém, houve corte de 2 mil postos e o setor tem hoje 130,5 mil funcionários. Segundo Megale, foram cortes diluídos entre todas as empresas, a maioria oriundos de desligamentos voluntários e aposentadorias.
O presidente da Anfavea acredita que, nos próximos meses, algumas empresas deverão retomar turnos de trabalho suspensos durante a crise brasileira – entre 2014 e 2016 – e certamente haverá contratações.
Ele ressalta, porém, que a “inevitável” adoção de novas tecnologias, como a da chamada indústria 4.0, o número de vagas não será como no passado. Em 2013, o setor empregava 157 mil pessoas, 26,5 mil a menos que hoje. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)