Carlos Ghosn pode deixar prisão no Japão mediante pagamento de fiança

O Globo/Agência AFP

 

O executivo Carlos Ghosn, detido há um mês no Japão sob a acusação de fraude fiscal e até então o principal executivo a frente da aliança Nissan Renault, pode sair da prisão nas próximas horas após o pagamento de fiança, depois que um tribunal de Tóquio rejeitou nesta quinta-feira o pedido da Promotoria para prorrogar a detenção provisória.

 

O ex-presidente da Nissan pode ser liberado ainda nesta quinta-feira ou na sexta-feira, após o pagamento de fiança, informou o canal público NHK.  Em comunicado, a justiça informou a “rejeição” ao pedido para a ampliação da detenção provisória. A Promotoria de Tóquio pretende recorrer contra a decisão.

 

“Vamos atuar de maneira apropriada” afirmou o promotor adjunto Shin Kukimoto.

 

Caso Ghosn consiga sair sob fiança, as condições da liberação podem exigir que ele solicite autorização para sair do Japão, disse a agência Reuters. O empresário também pode ser proibido de contatar funcionários da Nissan.

 

Ghosn foi detido em 19 de novembro ao lado de seu braço direito, Greg Kelly.  O executivo de 64 anos foi acusado de ter omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa quase 5 bilhões de ienes (US$ 44 milhões) durante cinco anos, entre 2010 e 2015. Greg Kelly também foi acusado.

 

Os dois, que negam as acusações, também são suspeitos de terem repetido a fraude, entre 2015 e 2018, por um valor de 4 bilhões de ienes (US$ 35 milhões), o que havia provocado a prorrogação do período de detenção.

 

A Nissan também é investigada como pessoa jurídica, já que a Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios incriminatórios às autoridades da Bolsa.

 

A detenção de Ghosn, que já foi destituído da presidência da Nissan, foi o resultado de uma investigação interna da empresa. O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors, mas Renault decidiu mantê-lo em seu cargo, uma situação que gerou uma crise na aliança entre as montadoras, criada em 1999.

 

Na segunda-feira, a Nissan não conseguiu designar um substituto para um executivo.

 

A decisão do tribunal não significa que Ghosn não será acusado pela segunda vez, explicou o advogado Yasuyuki Takai, ex-membro da unidade especial da Promotoria de Tóquio, a instituição que investiga o caso.

 

“Sem dúvida (o tribunal) considera que agora já é possível decidir se ele deve ser indiciado ou não na segunda acusação, sem necessidade de prorrogar a detenção. Além disso, é possível que seja detido por uma terceira acusação, ainda não sabemos” disse.

 

Além das acusações de não ter declarado sua renda, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo pagas pela empresa ao redor do mundo.

 

O diretor executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, que usou palavras duras a respeito de Carlos Ghosn, voltou a falar sobre o tema na segunda-feira.

 

“Nossa empresa está em choque, não estamos em uma situação normal, mas o meu sentimento é que deveríamos acabar definitivamente com atitudes tão graves” – declarou.

 

A aliança Renault-Nissan nasceu em 1999 e em 2016, com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico. (O Globo/Agência AFP)