Transportes são responsáveis por 25% das emissões globais e veículos leves são os grandes vilões da poluição, diz estudo de 40 organizações internacionais

Diário do Transporte

 

Os governos em todo o mundo precisam urgentemente desestimular os transportes individuais e propiciar investimentos em sistemas eficientes e limpos de ônibus, além de redes metro ferroviárias.

 

Esta é uma das conclusões do relatório “Situação Global do Transporte e Mudança Climática Global” (tradução livre para o Português), elaborado por 40 organizações internacionais que reúnem especialistas em transportes limpos e de baixo carbono.

 

Os resultados foram apresentados nesta terça-feira, 11 de dezembro de 2018, na 24ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 24), realizada em Katowice, na Polônia.

 

O relatório teve como base os dados oficiais do clima de 40 países, dentre os quais, 29 em desenvolvimento, incluindo o Brasil.

 

Segundo o estudo, os carros de passeio são os grandes vilões da poluição, respondendo por 45% das emissões de CO2 – gás carbônico – dos transportes.

 

Em segundo lugar, surgem os caminhões, com 21% da poluição por CO2. Em seguida, os maiores poluidores dos transportes são os navios e aviões, com 11% das emissões cada.

 

Os ônibus e micro-ônibus representam apenas 5% da geração de CO2, número que pode ser menor ainda se houver mais frotas de modelos elétricos à bateria, trólebus, híbridos, gás natural e biometano, etanol, hidrogênio, entre outros com tração alternativa ao óleo diesel.

 

Triciclos e motocicletas emitiram globalmente 4% e os trens (em especial os cargueiros a diesel) respondem por 3% da poluição por CO2 nos transportes.

 

O estudo mostra que os transportes, somando todos os modais, são responsáveis por 25% das emissões globais.

 

A poluição gerada pelo setor de transportes cresceu 29% entre 2000 e 2016, ainda segundo o relatório, passando de 5,8 gigatoneladas para 7,5 gigatoneladas.

 

Os países em desenvolvimento, como o Brasil, vão ser responsáveis pelo maior crescimento da poluição pelos transportes. Em 2015, as 29 nações pesquisadas tiveram contribuição de 40% das emissões do setor, número que pode subir para entre 56% e 72% em 2050.

 

Em um dos trechos, o relatório cita negativamente as políticas de incentivos ao transporte individual, como no Brasil.

 

“Apesar das elevadas quotas de transporte público, o crescimento da motorização no Brasil (69%) e no México (49%) superou em muito a média mundial (27%), atingindo 297 veículos por mil habitantes em 2015. No Brasil, isso foi resultado das políticas econômicas do governo federal que subsidiou com isenções fiscais a compra de automóveis privados”.

 

Com isso, o Brasil promove incentivos ao transporte individual com dinheiro público.

 

Um dos resultados desta política foi evidenciado no total de emissões por pessoa transportada, que no Brasil cresceu bem mais que a média, provando que há mais veículos particulares sendo estimulados em vez de deslocamentos coletivos.

 

“O crescimento das emissões per capta variou muito, no Brasil foi de 38% e no México de 6%  de 2000 a 2016, contra uma média de taxa de crescimento de 23% na América Latina durante o mesmo período. As emissões por unidade do PIB no Brasil aumentaram 12% e diminuíram no México em 6%, de 2000 a 2016, enquanto no mundo as médias caíram cerca de 15% durante o mesmo período.”

 

Os países não desenvolvidos, segundo o relatório, tem um potencial de redução de poluição 60% maior que dos países mais ricos porque até então fizeram muito pouco diante do tamanho do problema.

 

Se quiser cumprir as metas do Acordo de Paris, para limitar e, 1,5 graus centígrados o aquecimento global, o mundo precisa reduzir para duas ou até três gigatoneladas de CO2 até 2050, as emissões pelos transportes.

 

BRTs e Metrô como soluções conjuntas

 

O que muitos especialistas já apontaram como um dos principais caminhos para reduzir as emissões, o relatório apresentado em 11 de dezembro de 2018 confirma: os investimentos têm de ser em redes de transportes coletivos, em especial BRT- Bus Rapid Transit (corredores de ônibus mais eficientes) e em metrô.

 

A desaceleração dos recursos nestas duas modalidades de transportes preocupa as 40 organizações.

 

Segundo o estudo, houve um crescimento de 74% na demanda por transporte de passageiros, entre público e privado, de 2000 a 2016, principalmente nos países em desenvolvimento.

 

Nas duas últimas décadas, em todo o mundo, houve crescimento de redes de transportes coletivos.

 

O BRT – Bus Rapid Transit, por seu baixo custo, resultados positivos e rápida implantação foi o principal escolhido tanto por países ricos como em desenvolvimento, com expansão de 853%. As linhas de VLTs -Veículos Leves sobre Trilhos cresceram 88%, e os sistema de metrô de fato, tiveram expansão de 67%.

 

“Sistemas Prioritários de Ônibus: Corredores prioritários de ônibus em uma variedade de formas, e o BRT ganhou mais popularidade em todo o mundo como uma alternativa mais rentável que os investimentos ferroviários urbanos que são muito mais caros. Entre 2005 e 2017, a Cidade do México expandiu seu BRT Metrobus, sistema com sete linhas principais, totalizando 140 km e transportando 1,24 milhão de passageiros por dia. Outra a redesenhar o sistema de transporte público com base em ônibus é Dublin. A Autoridade Nacional de Transportes da Irlanda, em maio de 2017, propôs o Plano «BusConnects», composto por 17 novas linhas , todas com pistas separadas.”

 

No entanto, a redução do ritmo de investimentos, principalmente nos BRTs, nos anos mais recentes, preocupa os pesquisadores.

 

Ônibus elétricos

 

O relatório destaca que cada vez mais os ônibus elétricos têm ganhado importância, principalmente na China.

 

Em 2017, os ônibus elétricos tiveram papel de destaque entre as tecnologias de baixo carbono com o rápido aumento de produção e implantação. Cidades da Europa, da América Latina, África e Ásia anunciaram e executaram planos para eletrificar suas frotas de ônibus. Em 2017, eram cerca de 375 mil ônibus elétricos em operação em mais de 300 cidades, com 98% implantados na China.

 

O relatório ainda mostra que há espaço para duas soluções de ônibus movidos a eletricidade. Os trólebus, já em operação há décadas e que têm se modernizado, e os elétricos com bateria, que viraram tendência nos novos investimentos.

 

“Ônibus elétricos: enquanto ônibus elétricos conectados a fios (geralmente chamados de trólebus) estão em uso durante várias décadas, os desenvolvimentos recentes de ônibus elétricos alimentados por bateria ganham espaço. Em Edimburgo, Reino Unido, os primeiros ônibus públicos totalmente elétricos começaram a operar em outubro de 2017. Muito do centro de Edimburgo é servido por esses veículos, e a frota é ampliada em 2018 para criar uma primeira rota totalmente elétrica na cidade. Town, na África do Sul, recebeu seus primeiros dez ônibus elétricos no segundo semestre de 2017, e de lá, os ônibus elétricos serão expandidos para Windhoek, na Namíbia, e Maurício nos próximos anos. Santiago, no Chile, incorporou os primeiros ônibus elétricos em sua frota de transporte público em novembro de 2017, com 90 desses ônibus previstos para estar em circulação no final de 2018. Shenzhen, na China substituiu todos os seus ônibus (16.539) por elétricos no final de 2017, tornando-se a primeira cidade do mundo com uma frota de ônibus totalmente elétrica. Os governos do Reino Unido lançaram programas para promover ônibus elétricos, oferecendo substancial apoio aos operadores de transportes públicos para a aquisição de ônibus híbridos ou totalmente elétricos plug-in e carregamento na infraestrutura. O governo alemão vai cobrir 80% dos custos incrementais de e-bus e até 40% de cobrança custos de infraestrutura. Estes são apenas alguns dos vários exemplos de implantação de ônibus elétrico a partir de 2017.”

 

O relatório ressalta a importância dos transportes públicos para melhorar as condições de vida nas cidades e coloca o ônibus como um dos modais mais importantes para que este objetivo seja alcançado. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)