O Estado de S. Paulo
Quem acreditou que já estava tudo certo para a aprovação do Rota 2030, o novo regime automotivo que deve vigorar pelos próximos 15 anos, “deu com os burros n’água”, como dizia meu avô, o português Manoel Pereira.
Depois do texto aprovado, após mais de um ano de discussões, acertos e desacertos entre as montadoras, os ministérios da Fazenda e da Indústria (MDIC) e a Receita Federal, o programa enroscou de novo na Câmara.
Apoiados pelas empresas que atuam localmente, deputados e senadores do Nordeste travaram disputa pelas emendas ao texto para ver quem seria mais beneficiado: Pernambuco (que abriga a Fiat/Jeep) ou Bahia (onde está a Ford).
Um acordo entre ambos os lados resolveu a pendenga, mas, de última hora, parlamentares do Centro-Oeste conseguiram encaixar na emenda a extensão dos benefícios também para as fábricas Caoa/Hyundai e Mitsubishi, ambas em Goiás.
Estava tudo combinado para o texto ser aprovado no Plenário da Câmara nesta terça-feira, 30, mas eis que parlamentares do Sul e Sudeste pediram adiamento da votação.
Motivo: montadoras dessas regiões temem perder a competitividade de preços diante dos benefícios fiscais que as fábricas do Nordeste e Centro-Oeste terão até 2025. Os benefícios regionais venceriam em 2020, mas, com a emenda colocada no Rota, serão estendidos por mais cinco anos.
A estratégia agora será a de retirar esses “penduricalhos” que oportunamente entraram no Rota 2030, programa direcionado a todo o setor e não a questões específicas ou regionais.
Na visão de boa parte da indústria, os programas regionais deveriam ser discutidos separadamente do Rota. E há dois anos pela frente para fazer isso.
Bom lembrar que no Sul e Sudeste estão a grande maioria das montadoras. E que já recorreram à ajuda de membros do presidente recém-eleito e do governador também recém-eleito de um grande Estado dessas regiões. A briga vai ser entre grandes… (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)