O Brasil Sobre Rodas
Organizar, desde 2002, uma exposição focada apenas em carros elétricos em um país que dispõe de frota registrada de cerca de 400 unidades movidas a bateria, somente a partir dos últimos quatro anos, é realmente demonstração de persistência. Assim mesmo, Ricardo Guggisberg continua animado e abriu esta semana em São Paulo, em parceira com a Nürnberg Messe Brasil, a 14ª edição do que pode se chamar simplificadamente de Salão do Veículo Elétrico. Nos dois primeiros dias, dos três do evento, um congresso debateu os cenários atual e futuro no Brasil e no mundo.
Como esta coluna tem enfatizado é preciso separar bem híbrido de elétrico. O termo híbrido elétrico (plugável) deve se aplicar apenas aos veículos que possuem motor a combustão e outro elétrico de baixa autonomia (50 a 60 quilômetros). Sua bateria bem menor e, portanto, menos cara pode ser recarregada tanto pelo motor convencional quanto numa tomada. Grande vantagem é abastecer em postos de combustível e eliminar ansiedade causada pela descarga da bateria.
Existe ainda o que se classifica de elétrico híbrido. Tração puramente elétrica, silenciosa e de ótimo desempenho, mas um gerador acionado por motor a combustão provê autonomia extra. Exemplos: BMW i3 Rex vendido aqui e Nissan Note e-Power, no Japão.
Entre as várias previsões feitas durante o congresso não ficou muito claro como os compradores dividirão suas preferências no futuro. Híbridos convencionais, como Toyota Prius e praticamente toda linha Lexus, deverão crescer em curto prazo. Os chamados híbridos plugáveis podem se transformar na tecnologia de transição mais prudente até se chegar ao automóvel elétrico puro. Mas ao se estimarem números há muita desinformação e uso inadequado do termo “eletrificado” que coloca no mesmo balaio soluções bastante diferentes.
Até no Brasil há confusão quanto à diminuição de carga tributária, dentro do programa Rota 2030, para incentivar os meios alternativos de propulsão. Um híbrido básico (Prius), por exemplo, só recebeu um ponto percentual de desconto de IPI. No caso do i3 Rex esse imposto chegou até a subir. A legislação criou faixas de taxação que combinam peso e eficiência energética de forma difícil de ser atendida por um veículo elétrico a bateria.
Mesmo na Alemanha a calibragem dos incentivos falhou. Metade dos fundos alocados no orçamento federal para compensar em parte o alto preço dos carros elétricos “encalhou” pela ausência de compradores. A frota alemã de elétricos e híbridos somados atingiu 110.000 unidades no ano passado. A meta era de um milhão só de elétricos em 2020, longe de ser alcançada, mesmo que as vendas estejam crescendo hoje a partir de bases comparativas muito baixas.
Estudo recente da consultoria Bloomberg explica os problemas decorrentes de investimentos pesados em fábricas de baterias de íons de lítio. Elas podem deixar de ser a solução definitiva pelo custo da matéria-prima, apesar de seu preço ter caído 80% em oito anos. Insuficiente, porém, para baratear o automóvel elétrico de forma atraente. Ainda devem em peso, volume, densidade energética e cargas rápidas contínuas sem comprometer sua durabilidade. (O Brasil Sobre Rodas/Fernando Calmon)