Diário do Transporte
O sistema de transportes da capital paulista é um dos maiores e mais complexos do mundo.
A frota é de em torno de 14,3 mil ônibus, que em 1.335 linhas registram 9,5 milhões de passagens por dia. São mais de três milhões de quilômetros percorridos diariamente.
É claro que, entre números tão grandiosos, é possível esperar que haja muitas histórias.
Os transportes coletivos na cidade de São Paulo foram marcados por diversas fases.
E um dos modelos que podem retratar vários destes momentos são os trólebus que chegaram à CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, antiga empresa pública da cidade, entre o final dos anos 1970 e início de 1980.
Graças ao entusiasmo de admiradores da história da mobilidade paulistana e da sensibilidade de uma empresa operadora, um destes veículos foi restaurado e hoje vai ajudar a entender melhor como evoluíram os transportes na maior cidade da América Latina.
A Ambiental Transportes, que opera linhas no subsistema estrutural, na área 4, correspondente à zona Leste de São Paulo, finaliza a restauração de um trólebus Marcopolo Torino Geração V, com chassi Scania BR 116, ano 1980.
Os serviços de restauro tiveram início há aproximadamente duas semanas, mas a preservação da história que reúne o veículo começou na prática bem antes, com visitas de entusiastas e grupos de preservação da memória dos transportes à garagem da empresa.
Um destes admiradores da evolução da mobilidade em São Paulo é Juverci de Melo, do Portal do Ônibus.
Juverci contou ao Diário do Transporte que o trólebus chegou à CMTC em 1980, adquirido ainda no âmbito do Projeto Sistran, um plano de 1978 na gestão de Olavo Setúbal como prefeito, capitaneado pelo secretário de transportes, Adriano Murgel Branco.
O financiamento para aquisição de trólebus era pelo Governo Federal, por meio da EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos.
O pesquisador explica que a EBTU financiou sistemas em diversas cidades, como São Paulo, Santos, Recife e Ribeirão Preto.
Os trólebus tinham pintura padronizada nestes sistemas com as cores amarelada e creme.
O veículo restaurado pela Ambiental tinha outra carroceria, Ciferal Padron Amazonas, antes de receber se receber sobre o chassi Scania a carroceria Marcopolo Torino.
O projeto Sistran acabou sendo descontinuado por administrações posteriores.
O veículo “percorreu” um trecho importante da história dos transportes paulistanos: os tempos de uma rede extensa de trólebus nos anos 1980; a época da chamada “municipalização” dos transportes municipais na gestão da prefeita Luíza Erundina (1989-1992), o fim da CMTC ente os anos de 1993 e 1994 na gestão Paulo Maluf (1993 – 1996); a reorganização do sistema com a primeira licitação do setor na cidade, em 2003 na gestão Marta Suplicy (2001 – 2004), quando houve o desmonte de parte da rede de trólebus.
Realmente, o veículo é especial.
Em 1996, a unidade foi reformada pela empresa que operava os serviços na época, Eletrobus, recebendo a carroceria Marcopolo Torino GV.
Em 2008, o veículo foi baixado, ou seja, retirado da operação. O trólebus foi adquirido pela empresa em leilão e quase chegou a ser desmanchado. Foi aproveitado como veículo de treinamento até 2013. Entre 2015 e 2016, serviu para testar alavancas pneumáticas para novos modelos.
Juverci conta que internamente, para os treinamentos, foram mantidos em parte do trólebus os assentos normais e, em outra metade, foram colocados instrumentos que mostram como funciona a rede área e alguns componentes do veículo.
O pesquisador diz que o veículo agora restaurado traz uma oportunidade de parte desta história ser revivida.
O trólebus será uma das várias novidades que devem ser apresentadas na BBF – Bus Brasil Fest que, neste ano, ocorre no dia 25 de novembro em frente ao estádio do Pacaembu.
“A reforma desse trólebus pela Eletrobus nos anos 90 foi um marco muito importante para o sistema de trólebus em São Paulo na época e agora, a Ambiental Transportes manter esse memória viva possibilita aos visitantes do evento conhecerem de perto a história e vivenciar através dos veículos expostos a evolução do trólebus, vai de encontro ao tema do evento que é mostrar a Evolução do Transporte Coletivo. É uma das sementes que temos plantado em algumas empresas que brotou e está dando frutos.”
As tratativas para o restauro, além do Portal do Ônibus, tiveram a participação do Movimento Respira São Paulo, que luta para a ampliação do transporte não poluente na cidade.
É a segunda empresa privada da cidade a restaurar um modelo antigo.
A Viação Gato Preto, de parte das zonas norte e oeste, tem em seu acervo um monobloco O-364, dos anos 1980 e um Apache Vip I, do início dos anos 2000. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)