O Estado de S. Paulo
Liderados por Canadá e Europa, governos de diferentes partes do mundo começam a costurar uma aliança para salvar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e impedir que as políticas de Donald Trump enterrem o sistema internacional. Princípios de uma nova constituição para a entidade serão debatidos a partir do dia 20 em Genebra, com o objetivo de levar o assunto a uma conferência ministerial em outubro no Canadá.
Nos últimos meses, Trump passou a minar o funcionamento da OMC, desmontar seus tribunais, ignorar decisões e ainda ameaçar deixar a instituição caso ela não passe por uma reforma que atenda a seus interesses. Nos corredores da entidade, o tom não é mais de crise. Mas de uma ameaça para a sobrevivência da instituição que passou a regular o comércio mundial nos últimos 20 anos.
OMC
Diante desse cenário, os canadenses começaram a desenhar uma reforma que pudesse atender a três objetivos: garantir que os tribunais da OMC continuem a funcionar, modernizar as leis do comércio e criar mecanismos para permitir que a OMC possa monitorar comportamentos protecionistas de forma mais eficiente.
Um dos principais pontos de uma reforma, porém, será a nova posição da China nas regras do comércio. Pequim aderiu à OMC no início do século e se beneficiou de regras que dão flexibilidade maior para os países emergentes.
Trump, porém, alega que foram essas brechas que permitiram que a China se tornasse em pouco tempo o maior parceiro comercial de mais de cem países e deslocasse a produção americana.
O rascunho de uma reforma começou a circular no momento em que a tensão entre Washington e Pequim ganhou um novo capítulo. Na terça-feira, a China pediu a autorização da OMC para impor retaliações de US$ 7 bilhões contra produtos americanos, em resposta à decisão da Casa Branca de não cumprir um julgamento dos tribunais internacionais que condenaram suas políticas de dumping.
A aplicação da retaliação promete causar mais atrito em uma relação já azedada por uma série de troca de farpas e de tarifas entre as duas economias. No caso específico em questão, Pequim alegava que os americanos impunham tarifas antidumping contra produtos eletrônicos e máquinas, além de metais. A OMC acabou dando razão em 2017 para os chineses e ordenou que os EUA retirassem as medidas, o que jamais foi feito. A entidade deu até o dia 22 de agosto para Washington reformar suas práticas. Mas Trump ignorou a decisão. (O Estado de S. Paulo/Jamil Chade)