Setor de serviços puxará avanço econômico de São Bernardo do Campo

O Estado de S. Paulo

 

Os últimos anos de atividade econômica vacilante no País têm imposto ao Grande ABC a complexa missão de se repensar e buscar novas estratégias para a recuperação. Historicamente ligada à produção industrial, a região mudou de perfil ao longo das décadas. Hoje, o setor de serviços responde por mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) regional e já emprega a boa parte da mão de obra.

 

Esse deve ser o caminho tomado pelas cidades do ABC, em ações conjuntas, para se recuperarem, acreditam especialistas e empresários reunidos na quinta-feira passada, na pinacoteca de São Bernardo, para o Fórum Estadão – O futuro do Grande ABC: os novos rumos para São Bernardo.

 

O evento, uma iniciativa do Estado em parceria com a prefeitura de São Bernardo, foi aberto pelo prefeito do município, Orlando Morando. “Nossa região não consegue avançar isoladamente. Cada um tem sua característica, mas o desafio é sempre o mesmo.”

 

Na avaliação do diretor da área de Análise Setorial e Inteligência de Mercado da consultoria Tendências, Adriano Pitoli, a região é muito sensível às oscilações da atividade econômica do País. “Qualquer resfriado, vira uma pneumonia”, compara. O remédio, acredita Pitoli, é atrair investimentos para o setor de serviços, que responde por 69,7% do PIB e emprega 66% da mão de obra apenas em São Bernardo do Campo. “A indústria tradicional tem capacidade de puxar a recuperação da região no curto prazo, mas cada vez mais vai ser importante pensar na diversificação da vocação do município.”

 

Inovação

 

Parte da capacidade de desenvolvimento dos serviços do ABC está relacionada à disposição de inovar. “A crise nos dá a chance de fazer coisas melhores”, avalia Marcos Fernandes, diretor da Basf.

 

Há 60 anos em São Bernardo, a fabricante de máquinas B. Grob tem investido na capacidade de automação dos equipamentos. “Nosso produto migra cada vez mais para um conteúdo de serviços, estamos inseridos nesse contexto de produtividade criado pelas novas tecnologias”, diz Oscar Passos, vice-presidente da empresa. “Vamos continuar investindo, principalmente nas pessoas, e inovando.”

 

Também presente ao evento, o diretor de Relações Institucionais e Governamentais para a América Latina da Scania, Gustavo Bonini, disse que mesmo tendo um perfil tradicional, há muita inovação na indústria automobilística. Segundo ele, “isso gera a necessidade de novos fornecedores e serviços”.

 

Roberto Leoncini, vice-presidente de Vendas e Marketing da Mercedes-Benz, acredita que o setor automotivo vai mudar. “O negócio da nossa empresa na ponta, na distribuição, vai mudar e temos vários desafios. Então, é preciso investir em pessoas e em inovação.” Mas, conforme apontado pelo diretor do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (Cofip), Francisco Sergio Ruiz, falta integração entre os setores acadêmico, produtivo e público. Problema também citado pelos outros participantes do evento.

 

Destacado todo o potencial da região, especialmente de São Bernardo, é uma preocupação da administração da cidade, não só atrair empresas, mas principalmente mantê-las na região. Porque, como disse Valter Moura Junior, diretor do Departamento de Empreendedorismo, Trabalho e Renda (SDECT) da prefeitura de São Bernardo, quem realmente traz emprego e gera renda é o setor privado.

 

“SBC e o Grande ABC são maiores que suas fronteiras”

 

Prefeito SBC

 

O evento Fórum Estadão – O futuro do ABC: os novos rumos para São Bernardo, realizado na quinta-feira passada na pinacoteca da cidade, foi aberto pelo prefeito de São Bernardo, Orlando Morando. Segundo ele, a região formada por sete cidades, é muito maior do que as suas fronteiras. “Somos o celeiro de uma diversidade de produtos, de serviços, de inteligência, de um campo universitário muito maior do que se imagina”.

 

Morando disse que o evento, que coincidiu este ano com o aniversário de 465 anos de São Bernardo, deve ser repetido anualmente ou semestralmente para se discutir o futuro do município e da região.

 

No auge da crise econômica, com elevado índice de desemprego, grandes empresas estagnadas e as pequenas endividadas, houve temor de que a cidade “poderia virar uma Detroit”.

 

Em seu discurso, Morando criticou a alta carga tributária do País e ressaltou que, para atrair mais investimentos, São Bernardo é a única cidade da região metropolitana a dar desconto gradual no IPTU para empresas que geram novos empregos. A partir de 100 vagas, o desconto passa a valer e varia de 5% a 30%, dependendo da quantidade de vagas criadas. (O Estado de S. Paulo/Raquel Brandão)