O Estado de S. Paulo
Após a queda da atividade econômica no período da crise nacional, a região do Grande ABC começa a recuperar o fôlego perdido e teve confirmados no ano passado US$ 3 bilhões em investimentos, o maior valor em uma década. Nos últimos três anos, os aportes ficaram abaixo de US$ 1 bilhão.
Do total anunciado, cerca de 90% vêm do setor automotivo, cujas maiores empresas se concentram no município de São Bernardo do Campo que, sozinho, responde por 38,2% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, formada também por Santo André, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
A confirmação de novos projetos veio acompanhada de uma previsão de crescimento de 5,4% do PIB em 2017, cujo resultado oficial só será confirmado futuramente. O Observatório Econômico da Universidade Metodista, que organiza e divulga informações da região, calcula que em 2016 já houve recuperação de 4,9% da economia local, após a forte queda de 15,4% registrada um ano antes.
Estão à frente dos investimentos as fabricantes Volkswagen e Scania, ambas de São Bernardo, e a General Motors, de São Caetano, que se preparam para lançamentos de novos veículos e passam por processo de modernização das fábricas adotando processos da chamada Indústria 4.0.
Embora nos últimos anos tenha perdido espaço na economia local para a área de serviços – a exemplo do que ocorre em várias outras regiões do País –, o setor industrial do ABC mantém uma estrutura ainda robusta, apoiada principalmente nas grandes empresas, que são importadoras de insumos e exportadoras de produtos para a América Latina.
“A região apresenta uma participação do setor industrial no PIB mais intensa que a economia nacional, o que mostra sua importância para o local”, afirma Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico. A indústria responde por 23,2% do PIB regional. Do PIB nacional, o setor tem participação de 18,5%. Por ter representatividade maior, quando a economia como um todo retrai, a região acaba sendo mais afetada, ressalta o economista.
O vice-presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de São Bernardo, Mauro Miaguti, não acredita em uma ampliação do peso do setor industrial na região nos próximos anos, principalmente pela falta de uma política robusta por parte do governo federal.
Desindustrialização
Segundo Miaguti, o processo de desindustrialização ocorrido com mais força nos anos 90 tem a ver, em parte, com a decisão do governo do Estado de São Paulo de pulverizar os polos industriais. “Como havia áreas disponíveis no interior, foram oferecidos muitos incentivos para que as empresas mudassem ou instalassem novas filiais em outras cidades”, diz o executivo do Ciesp. A guerra fiscal também atraiu fábricas para outros Estados.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com novas montadoras que chegaram ao País, como Hyundai, que escolheu Piracicaba, e BMW (que foi para Santa Catarina) ou com grupos que abriram novas plantas, como a Toyota, que abriu unidades em Indaiatuba e Sorocaba. A Mercedes-Benz avaliou a cidade de São Bernardo para instalar sua fábrica de automóveis, mas pela indisponibilidade de uma grande área acabou indo para Iracemápolis.
Ainda assim, a indústria do ABC deve continuar tendo importante participação na economia regional, mesmo que ocorra a ampliação do setor de serviços que, em boa parte, está atrelada à demanda do setor industrial. A área de logística, por exemplo, vem crescendo na região, principalmente, na prestação de serviços para a indústria automobilística.
Para Maskio e Miaguti, a indústria local precisa promover inovação, assim como o segmento de serviços, o que exigirá esforço conjunto de ações federais, estaduais, locais, e também das empresas, “com transbordamento aos segmentos de médias e pequenas empresas”, diz Maskio.
Uma aposta da região é a chegada da Saab Aeronáutica Montagens, que vai produzir em São Bernardo partes estruturais para a montagem de aviões-caça Gripen para a Força Aérea Brasileira (FAB). A expectativa, diz Miaguti, é que a empresa atraia novos fornecedores e também incremente a produção das autopeças locais, que poderão fornecer para montadoras e para a Saab.
A empresa iniciará operações em 2020 com 55 funcionários, a maioria engenheiros e técnicos. Até 2024, o número deverá chegar a 200. “Embora sejam poucos, são postos de maior valor agregado e salários melhores”, prevê Miaguti.
Trabalho
Além de conhecida como berço da indústria automotiva, o ABC também é considerado berço do sindicalismo. Foi em São Bernardo, no fim dos anos 70, que ocorreram grandes greves de metalúrgicos por reajuste salarial.
Nos anos mais recentes, o papel dos sindicatos vem sendo ampliado. “Nosso desafio atual é preparar os trabalhadores para a quarta revolução industrial”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana.
“Precisamos entender quais profissões vão sobreviver e que tipo de qualificação é necessário”, diz Santana. Ele também ressalta que a luta para manter as empresas na região “é contínua” e passa por garantir a competitividade da fábrica para atrair novos projetos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)