O Estado de S. Paulo
Em uma visita que durou pouco mais de 12 horas à unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde se reuniu com a direção local da empresa, concessionários e dirigentes sindicais, o presidente mundial da Volkswagen, Herbert Diess, disse ontem que o País está cotado para desenvolver um novo carro compacto global da marca para ser lançado após 2020, quando o grupo deverá iniciar um novo ciclo de investimentos no Brasil.
Voltado para mercados de toda a América Latina, mas com possibilidades de ir para outras regiões, seja por exportação ou produção local, o modelo a ser criado pela engenharia brasileira deve ser o substituto do Gol que, junto com o up!, são os atuais produtos da marca nesse segmento, que responde por cerca de metade das vendas no País. Na conversa com os sindicalistas, deixou claro que precisa da contribuição de todos para que o projeto seja economicamente viável. “A fábrica precisa ser muito competitiva”, afirmou Diess, sem dar detalhes sobre qual das três plantas estaria mais apta para o projeto.
Para produzir o novo Polo e o Virtus no ABC, a empresa também fez acordos com os trabalhadores que, em razão da crise, abriram mão de reajustes salariais e, por um tempo, aceitaram trabalhar com jornadas e salários reduzidos.
Diess afirmou ainda que, nos piores momentos da crise, a direção mundial da Volkswagen chegou a pensar em fechar uma de suas três fábricas de automóveis no Brasil. Com capacidade para 800 mil veículos por ano, em 2016 a produção beirou 300 mil unidades. “Mas já decidimos que vamos manter a capacidade atual”, afirmou.
O plano de investimento para o período de 2017 a 2020, de R$ 7 bilhões, não inclui aumento de capacidade. Prevê modernização das fábricas e 20 lançamentos, dos quais faltam dez. O foco principal são os utilitários-esportivos, segmento que mais cresce em vendas no País e do qual a marca não participa com produtos locais. Serão cinco novos SUVs. Um deles, o T-Cross, será produzido na unidade de São José dos Pinhais (PR) no fim do ano para início de vendas no primeiro semestre de 2019. Uma nova picape também será apresentada em novembro.
Confiante no desempenho da marca no Brasil, onde as vendas de janeiro a julho cresceram 34%, para 197,8 mil unidades, enquanto o mercado total teve alta de 14%, Diess espera retorno da empresa à lucratividade no próximo ano. A Volkswagen opera no vermelho na América do Sul desde 2013. O Brasil, sozinho, responde por quase 70% das vendas na região.
Global. Diess esteve no Brasil em novembro, quando ainda era presidente global da marca Volkswagen. Ele assumiu a presidência global e abril, em substituição a Mathias Müller.
Sobre o recente entendimento com a Ford, para o desenvolvimento conjunto de veículos comerciais leves, o executivo disse apenas que os estudos ainda estão em fase inicial.
Montadora lucra quase € 10 bi no primeiro semestre
Embora a empresa registre prejuízo na América do Sul, a operação global da Volkswagen registrou lucro de 9,8 bilhões no primeiro semestre, cifra quase 10% acima do resultado de igual período de 2017, mesmo com o escândalo conhecido como Dieselgate, que levou a empresa a perder participação de mercado em sua casa, a Alemanha.
A companhia vendeu globalmente 11 milhões de veículos com um sistema que fraudava a medição de emissões de poluentes, o que lhe rendeu prejuízos de ¤ 25 bilhões, boa parte em ações judiciais. Só no primeiro semestre foi pago ¤ 1,6 bilhão a clientes que foram à Justiça.
Na primeira metade do ano, o grupo, que detém 12 marcas, vendeu em todo o mundo 5,5 milhões de veículos, 7,15% a mais que entre janeiro e junho do ano passado, mantendo-se como líder em vendas, posto que tirou da Toyota no ano passado. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)