Isto É Dinheiro
O ano tem sido atípico, ao menos na paisagem, para o executivo argentino Bruno uno Lazanski, diretor da divisão de aluguel de carros da Localiza, maior locadora da América Latina. Em suas visitas quase diárias às lojas da rede, em vez de observar apenas os pátios lotados dos tradicionais carros populares de cor prata, ata, como GM Celta, Volkswagen Gol e Fiat Uno, hoje ele caminha entre alguns dos modelos mais cobiçados do mercado o automobilístico, como Jaguar F-Type e Audi Q3 e A4, além do Volvo XC-40. “De forma geral, a companhia vive uma de suas melhores res fases, com crescimento de 42% em receita no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2017”, diz Lazanski. O bom momento da empresa e a maior sofisticação da frota, que hoje conta com 208,5 mil carros, se explicam também pela diversificação de seus serviços. Há pouco mais de um ano, a Localiza lançou a inédita modalidade de locação de longo prazo para pessoas físicas, chamada de mensal flex. Trata-se de um contrato que, a partir de R$ 1.399 por mês, oferece ao cliente o uso exclusivo do veículo, no lugar da posse convencional. “Muita gente está deixando de comprar um automóvel, ou de adquirir um segundo carro, para usufruir daquele bem sem ter de se preocupar com manutenção, seguros ou depreciação”, afirma o executivo da Localiza.
Nesse cenário de maior desapego do consumidor, em que o uso é mais valorizado do que a posse do veículo, a Localiza não é a única a investir. A Movida e a Unidas também apostam na popularização do segmento. A Movida até criou um subsegmento, o Movida Premium, com carros mais caros ou de luxo. Uma SUV Porsche Cayenne, em um contrato de 24 meses com limite de 1 mil quilômetros por mês, custa R$ 16,9 mil por mês. “O apelo está muito mais relacionado à qualidade dos serviços do que ao fator preço”, afirma Jamil Jarrus, diretor comercial da Movida. “A aceitação a esse novo tipo de locação é um movimento que está nos motivando a diversificar ainda mais nossas opções”, diz Henrique Augusto Café, gerente nacional de produtos da companhia. “Hoje já disponibilizamos mais de 30 modelos aos clientes.” A Movida possui uma frota de 51 mil carros. Atualmente, entre 10% e 12% da operação está voltado ao segmento de locação de longo prazo, entre eles modelos Porsche, MercedesBenz, BMW, Jaguar e Mini Cooper.
A aposta na locação de longo período tem se espalhado por todo o mercado de locação. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Júnior, os novos formatos de contrato estão crescendo muito acima da média das demais categorias, juntamente com os serviços de locação para motoristas de aplicativo e de terceirização de frotas. “Cerca de 60% da frota das locadoras já está disponível para os clientes interessados em manter um carro alugado em sua garagem”, afirma o executivo. Para ele, as novas categorias de locação estão ajudando o setor a se diferenciar em um mercado cada vez mais concorrido, inclusive com o surgimento de aplicativos que oferecem locação de carros particulares. “O compartilhamento de carro ainda é um nicho a ser desbravado e que contribui para a disseminação do conceito de mobilidade”, diz Miguel Júnior.
O otimismo do setor com a mudança de cultura dos consumidores brasileiros é imenso. Na locadora Unidas, que hoje tem apenas 1% de sua frota de 108 mil carros nas mãos de clientes que fizeram contratos de longo prazo, a estimativa é que o negócio atinja 4% daqui a dois anos. “Lançamos o serviço Unidas Livre há apenas seis meses e já notamos um grande interesse dos clientes”, diz Luis Fernando Porto, presidente da empresa. “Colocamos em nosso site uma calculadora que permite ao cliente fazer as contas de quanto custa possuir um carro e qual o valor de uma locação, algo que tem ajudado bastante a disseminar as vantagens da modalidade”.
Até mesmo as montadoras têm se beneficiado do aquecimento do setor de locação. Em abril deste ano, mês em que as locadoras tradicionalmente renovam e ampliam suas frotas, as vendas dispararam 40% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a associação das revendedoras, a Fenabrave. “A vendas diretas, aquelas com negociações especiais para frotas, ajudaram a aquecer todo o setor automotivo neste ano”, afirmou Alarico Assumpção Júnior, presidente da entidade. As vendas diretas, que representam 14% do total em 2017, passaram para 18% neste ano. Além disso, o intenso ciclo de lançamentos das principais marcas também foi um fator de estímulo à renovação das frotas. Uma das mais beneficiadas, a Volkswagen, teve grande aumento das vendas de modelos inéditos, como Virtus e Polo, e novas versões para o Jetta e Passat. “As compras feitas pelas locadoras e grandes frotistas, aliadas a um cenário mais positivo na economia, com juros em queda e inflação controlada, fizeram com que o desempenho da Volkswagen no Brasil fosse destaque nos resultados globais da companhia”, disse Pablo Di Si, presidente da montadora para o Brasil e América do Sul.
Muita gente está deixando de comprar um carro para não se preocupar com os custos”, Bruno Lazanski, diretor da Localiza. (Isto É Dinheiro/Hugo Cilo)