A montadora que mata as rivais de inveja

Jornal do Carro

 

Não, não é a Chevrolet. A montadora que está matando a concorrência de inveja é, na verdade, uma importadora. E é justamente por essa razão que ela está começando a “sambar” na cara das rivais. Trata-se da marca Volvo.

 

A verdade é que, por ser visionária, ou simplesmente por sorte (razão mais provável), a marca Volvo conseguiu se dar bem. Das quatro maiores montadoras de luxo, ela foi a única a não inaugurar fábrica durante o Inovar-Auto, regime automotivo encerrado no fim de 2017.

 

À época, pareceu uma péssima ideia. Afinal, pelas regras do Inovar-Auto, a empresa que não tivesse fábrica no Brasil ficaria com importações extremamente limitadas, perdendo competitividade.

 

Com a implementação do programa, em 2014, Audi, BMW, Mercedes-Benz e Jaguar Land Rover decidiram inaugurar fábricas no País. Só assim conseguiriam importar, antes da abertura de suas plantas, cotas altas de veículos sem recolher IPI adicional de 30 pontos percentuais.

 

A marca Volvo foi a única das cinco que se manteve como importadora. Em uma época em que o mercado de carros de luxo estava em ebulição, a sueca não conseguiu brilhar, pois tinha importações limitadas.

 

Enquanto isso, algumas das rivais já sonhavam com 20 mil unidades comercializadas por ano. A marca Volvo não poderia ir muito além das 5 mil. Agora, o jogo virou.

 

Audi, BMW, Mercedes-Benz e Jaguar Land Rover já têm suas fábricas em operação, com capacidades que variam de 20 mil a 30 mil exemplares ao ano. Dessas, a que mais vendeu carros em 2017 foi a Mercedes: cerca de 12 mil.

 

Sem o Inovar-Auto, a marca Volvo agora pode trazer quantas unidades quiser, sem IPI extra. Enquanto isso, as rivais têm contas milionárias a pagar por suas fábricas, em operação, mas bastante ociosas.

 

Com a crise, a promessa de crescimento relâmpago do mercado de luxo não veio. Pelo contrário: esse nicho vem registrando queda nas vendas. Nenhuma das quatro fabricantes locais chega nem perto das 20 mil unidades/ano – muito menos das 30 mil.

 

Ouvi de um executivo de uma marca de luxo (que não é a Volvo): hoje, o melhor esquema é o da sueca. Além das contas das fábricas nacionais a serem pagas pelas concorrentes, importar sai mais em conta do que montar os carros aqui (mesmo com imposto de 35% para os modelos estrangeiros).

 

Porém, não se abre mão de uma fábrica de uma hora para outra. Há investimento a ser recuperado. As marcas de luxo alemãs e inglesas estão em um impasse, que pode ser resolvido pelo novo regime automotivo, o Rota 2030.

 

A marca Volvo não tem impasse nenhum. E cresce em ritmo acelerado.

 

Explosão da marca Volvo

 

A sueca alcançou, no mês passado, seu melhor momento no Brasil. Das marcas de luxo mais importantes, ela sempre foi a quinta colocada no ranking de vendas.

 

Em julho, pela primeira vez, a Volvo conseguiu ocupar a quarta posição. Ela ultrapassou a Land Rover. E não por pouca margem: 100 unidades.

 

No mercado de luxo, esse número é alto. No mês passado, a marca Volvo vendeu 606 unidades, ante as 506 da Land Rover.

 

A líder foi a Mercedes-Benz, com mil emplacamentos, ante os 974 da Audi e os 884 da BMW.

 

A Audi, aliás, foi muito bem em julho graças ao bom desempenho do Q3. Com 500 unidades emplacadas, o modelo foi o mais vendido do segmento de luxo no mês passado. Isso porque teve fortes vendas diretas: 187 exemplares.

 

Voltando à marca Volvo, no primeiro semestre a montadora cresceu 72% no mercado brasileiro, na comparação com o mesmo período de 2017 (número baseado em dados da Fenabrave). E não apenas por causa do XC40.

 

No período, a já “cansadinho” hatch V40 avançou 40% em vendas, mesmo índice do XC60. Já o XC90 teve crescimento de 120% nos emplacamentos, segundo a Volvo.

 

As concorrentes não vão mal. O pior já passou, e a maioria agora cresce. Menos a Audi, que no período registrou quedas de 4%.

 

Porém, nenhuma avança tanto quanto a Volvo. Nem perto disso. A Mercedes registrou alta de 8,4%; a BMW, de 25%; a Land Rover, de 29,8%.

 

As razões do avanço da marca Volvo

 

Os modelos da Volvo estão vendendo bem mais porque têm preços competitivos. Eles sempre tiveram.

 

Porém, antes havia limitação de importações. Agora, não mais. Essa liberdade veio junto com a renovação daquele que sempre foi o Volvo mais vendido do Brasil (até o mês passado), o XC60.

 

A nova geração chegou no ano passado com muitas tecnologias. No ano passado, equiparável a ele no País era só o Q5, que cobra bem mais para ter pacote semelhante.

 

Agora, chegou a nova geração do X3, com tecnologias modernas. O BMW também fica mais caro para receber todo o conteúdo do XC60.

 

No entanto, o grande salto foi o XC40. Ele chegou no início deste ano discretamente. No mês passado, conseguiu entrar na lista dos dez carros de luxo mais vendidos. Agora, explodiu.

 

É que a versão de entrada, T4, acaba de chegar às concessionárias. Mesmo com poucos dias de vendas, ela alavancou o desempenho de mercado do carro, que escalou o ranking na última semana do mês.

 

Resultado: o XC40 foi o terceiro modelo de luxo mais emplacado do País. Esse número deve avançar em agosto, primeiro mês cheio de vendas da versão T4.

 

Acredito que, neste mês, o XC40 tem chances concretas de brigar pela liderança do segmento de carros de luxo.

 

No caso da Land Rover, houve queda acentuada nas vendas do Discovery, na comparação com junho. Além disso, o Evoque despencou, com apenas 70 emplacamentos no mês passado.

 

A queda do Evoque não pode ser atribuída apenas ao XC40, com o qual compete, dependendo da versão. O Land Rover também pode estar perdendo espaço para o Jaguar E-Pace, que chegou este ano com proposta semelhante. O novato foi o nono carro de luxo mais vendido em julho. (Jornal do Carro)