O Estado de S. Paulo
Preocupado com o futuro do automobilismo, Lucas di Grassi quer fazer uma revolução dentro das pistas. O piloto brasileiro, mais conhecido por breve passagem pela F-1, acredita que os campeonatos com carros movidos à combustão ficarão para trás na disputa pela atenção do público. E aposta nos veículos elétricos, como o que ele mesmo pilota na Fórmula E, e até nos carros autônomos. Sim, o futuro do automobilismo pode estar numa corrida de carros robôs, mas com boa ajuda dos humanos do lado de fora.
Paulistano de 33 anos, Di Grassi teve passagem discreta pela F-1 em 2010, por uma pequena equipe, a Virgin, hoje fora do campeonato. Sem sucesso, embarcou em sua primeira aposta fora das pistas dois anos depois. Ajudou a criar a F-E e se tornou piloto de sucesso da categoria. “Fui a terceira pessoa contratada da F-E, para ajudar a desenvolver o conceito da categoria”, conta o piloto, que venceu o torneio de 2017, já sem vínculos com a empresa responsável pela categoria. No domingo passado, terminou a temporada na segunda colocação – a próxima terá a presença de Felipe Massa, outro ex-Fórmula 1.
Mas não são apenas os bons resultados na categoria que fazem Di Grassi pensar no futuro. “Hoje em dia a F-E não é mais uma aposta. Ela vale US$ 1 bilhão (R$ 3,8 bilhões), tem 11 montadoras, mais do que a soma da F-1 e da Indy, e tem grandes patrocinadores”, diz. O potencial de crescimento, segundo ele, se vê pelas cidades que demonstraram interesse em sediar corridas no futuro.
Para Di Grassi, a única categoria de carros elétricos do mundo é o futuro do automobilismo mundial. “Só há duas opções para o futuro: ou o automobilismo vai ser relevante para o produto comercial por causa das tecnologias que vão ser usadas nas ruas ou será somente entretenimento, como a Nascar”, explica. “A questão é que tudo vai acabar se tornando elétrico. E a F-E vai servir para desenvolver a tecnologia que as pessoas comuns vão usar nas ruas. Por isso, temos tantas montadoras interessadas na competição.”
O papel na criação da categoria e os bons resultados já tornam o piloto referência na área tecnológica mais “limpa”. Ele faz palestras sobre sustentabilidade para empresários. E, em maio, teve o reconhecimento da ONU Meio Ambiente ao ser nomeado “Defensor do Ar Limpo.” Enquanto vive o sucesso da F-E, segue olhando para frente, muito para frente. O próximo passo, na sua avaliação, são os carros autônomos, movidos a eletricidade, claro. O piloto é CEO da Roborace, empresa que pretende criar a primeira corrida de carros movidos por humanos e por Inteligência Artificial.
Como acontece com o campeonato dos carros elétricos, a Roborace quer unir diversão e tecnologia a ser desenvolvida em favor dos veículos que circularão no futuro, ainda que distante. A desconfiança, contudo, é maior do que teve a F-E: robôs vão substituir os seres humanos nos carros? Mais do que isso: um piloto quer acabar com os próprios pilotos nas pistas?
“É importante entender quais evoluções tecnológicas vão ser relevantes e como isso vai ser aplicado no meio em que estamos. Não estou fazendo uma revolução. A revolução vai acontecer, a questão é se estaremos prontos para ela”, diz. “Muitos me dizem que sou piloto e quero criar uma categoria de carro sem piloto. É igual o peru fazer propaganda do Natal”, ri. “Mas o que estou tentando fazer é o contrário: estou tentando achar um jeito de colocar carro autônomo relevante para o automobilismo para a gente continuar com o nosso emprego, que é correr de carro”. (O Estado de S. Paulo/Felipe Rosa Mendes)