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O Li, veículo elétrico desenvolvido pela catarinense Mobilis para circulação em áreas restritas, prepara-se para ganhar as ruas em médio prazo. A startup fundada há cinco anos já comercializa diferentes modelos para uso corporativo e agora planeja uma versão para o dia a dia nas cidades, a ser lançada até o fim de 2019.
Para rodar em vias públicas, o carro terá de desenvolver até 100 km/h, aproximadamente o dobro da velocidade apresentada hoje pelos modelos voltados ao uso em locais fechados, como pátios de fábricas ou pavilhões de feiras. A ideia é avançar gradualmente, conta o CEO, Mahatma Marostica.
De acordo com ele, a prioridade é consolidar o crescimento da empresa no primeiro trimestre de 2018 com vendas das versões atuais para grandes grupos empresariais que querem renovar suas frotas. “Em paralelo a este momento, estamos buscando investimento e contamos com um adviser em São Paulo para buscar recursos e planejar o nosso operacional para darmos o passo adiante, que será colocar o carro na rua, pelo menos dentro das cidades”, afirma.
A linha atual tem três versões: Comfort (para uso em condomínios), Trail (para terrenos acidentados) e Work (para pátios e pavilhões). Todas têm faróis, tela multimídia e aparelho de som. A velocidade máxima varia de 45 km/h a 60 km/h. A bateria de lítio (daí vem o nome do veículo) proporciona 50 km de autonomia, com recarga completa em 6 horas, em tomada comum.
Além de utilizar energia mais limpa e barata que um combustível fóssil, o Li tem peças com custo médio ou baixo, diz Marostica. Os pneus, por exemplo, custam cerca de R$ 150, seis vezes menos que os utilizados em outros veículos de pequeno porte (R$ 650). A empresa afirma que a taxa de manutenção é menor que a média dos utilitários elétricos convencionais e que a vida útil da bateria é maior.
“Nossa tecnologia é 100% nacional e pensada para o baixo custo de manutenção e abastecimento. O nosso pneu, por exemplo, pode ser comprado até em supermercado. Nosso desafio é fazer algo simples porém robusto”, diz o CEO.
Evolução
Marostica é um dos fundadores da Mobilis, ao lado de Paulo Zanetti e Thiago Hoeltgebaum, também engenheiros. O atual CEO trabalhava como gerente de produtos em uma montadora em Joinville (SC) e desejava criar um automóvel compacto com preço acessível. Zanetti, recém-formado na UFSC, e Hoeltgebaum, cursando mestrado por lá, planejavam criar um triciclo elétrico. Os três decidiram então unir forças.
No primeiro ano, estudaram o mercado e estratégias para montar a linha. Em 2015, compraram um escritório e contrataram uma pequena equipe. Em 2016, com um aporte de R$ 150 mil e mais R$ 150 mil em recursos próprios, passaram a se dedicar totalmente à companhia para criar o primeiro protótipo, orçado em R$ 300 mil.
O primeiro aporte veio do Instituto de Apoio à Inovação, Incubação e Tecnologia (Inaitec), também de Santa Catarina. Em 2016, a incubadora passou a injetar mensalmente um valor proporcional ao investido pelos próprios donos, de R$ 150 mil no total. A fábrica foi instalada na cidade de Palhoça, região metropolitana de Florianópolis.
“Como o chassi é bom para tração e aerodinâmica, percebemos que era um produto funcional, com boa velocidade, manutenção mínima, sem falar no combustível recarregável. Como houve um aumento de interesse, ramificamos o modelo em três tipos”, afirma Mahatma.
Contexto
Quando a Mobilis foi criada, em 2013, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) exigia que veículos aptos a rodar nas ruas tivessem airbag e frenagem ABS, além de portas e travas. Como a inclusão destes itens encareceria o projeto, a startup optou por lançá-lo apenas para uso indoor, como em pátios privados, condomínios, pavilhões ou clubes poliesportivos.
Essa característica permitiu à empresa trabalhar com custos enxutos e oferecer um produto acessível, com preço final médio de R$ 50 mil, dependendo da versão.
Em 2015, uma revisão do CTB derrubou a exigência de airbag e ABS, o que abriu brecha para pequenas montadoras, como a Mobilis, passarem a estudar modelos capazes de circular em vias públicas.
Perspectiva
O desenvolvimento da versão para as ruas vai exigir investimentos. Os ajustes no projeto devem deixar o preço final em torno de R$ 60 mil, cerca de R$ 10 mil a mais do que o valor atual.
Para realizar o passo, a capitalização girará em torno dos R$ 2,5 milhões, calcula Marostica. Segundo o CEO, os recursos deverão ser aportados por meio de incubadoras interessadas. A perspectiva é de um retorno de cerca de R$ 40 milhões por ano através da nova frota para as ruas, afirma.
Hoje, a produção gira em torno dos 100 carros por mês, o que atende aos requisitos da nova legislação de trafego de 2015, que também excluiu a exigência dos veículos terem de ter airbag e freio ABS. “Atuando como montadora, podemos fazer pequenos lotes para públicos específicos e entender a dinâmica do consumidor de uma maneira homeopática, pois não teremos de incluir airbag e ABS, que são peças caras, então poderemos ganhar as ruas aos poucos”, diz.
A Mobilis pretende lançar os novos Lis no segundo semestre de 2019. “Vimos que é um produto que tem espaço nas grandes metrópoles. Como nossa montagem é mais barata, a introdução ficou duplamente possível. Além da lei, a parte mecânica ajuda”, afirma. (DCI/Júlio Moredo)