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O fraco desempenho da distribuição de aços planos demonstra a fragilidade da atividade industrial no Brasil. As vendas pela rede despencaram em maio diante da crise de abastecimento causada pela greve dos caminhoneiros.
“A paralisação criou uma reversão de expectativa. Muito do que deveria ser feito não será realizado. Vemos um desânimo no restante do ano, com o setor já à espera de 2019, sendo que ainda estamos no meio de 2018”, declarou o presidente executivo do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Jorge Loureiro, em coletiva de imprensa.
A entidade apresentou os resultados do mês de maio. As vendas tiveram queda de 9,85% em comparação ao mês de abril e de 15,8% ante igual período de 2017. Para junho, a expectativa é de alta de 15%. “Essa recuperação vai se dar sobre uma base fraca”, ressalta Loureiro.
Apesar do impacto da paralisação, ocorrida nas duas últimas semanas de maio, o Inda não deve rever a expectativa de crescimento anual. “Esperávamos um reajuste para cima, mas agora vamos manter a projeção inicial de alta de 5%”, explica Loureiro.
Para ele, esse crescimento deve ser sustentado especialmente pelo setor automotivo. “Aposto em um crescimento de PIB do País de no máximo 1,5%. Mas vejo a indústria crescer de 4% a 5%, com o automotivo atingindo 15%.”
Aumento de preços
Outro efeito da greve foi postergar aumentos de preços, inicialmente programados pelas siderúrgicas para o início de junho, em razão dos atrasos dos embarques. Loureiro avalia que a atual conjuntura de preços internacionais e dólar em alta podem ocasionar mais uma rodada de aumentos até o final do ano. “Olhando pela cotação do aço importado, o valor doméstico tinha que ser ainda mais alto. Se for mantido esse cenário do mercado mundial e o dólar em US$ 3,70, cabe mais um aumento.”
Porém, o presidente executivo do Inda também vê uma disputa entre as usinas sobre a implementação desses reajustes. “É preciso haver certa disciplina. O que vemos são brigas em relação aos preços.”
Para o analista da Tendências Consultoria, Felipe Beraldi, a expectativa é que os preços domésticos do aço registrem avanços entre o 2º e 3º trimestre, principalmente pelos efeitos da desvalorização recente do real frente ao dólar. “As incertezas políticas, especialmente as associadas ao desenrolar das eleições no Brasil, devem continuar impondo volatilidade elevada da taxa de câmbio no curto prazo.”
Beraldi acredita que, apesar dos efeitos da greve, ainda há fatores que devem sustentar os principais segmentos demandantes de aços planos, o automotivo e o de bens de capital. “Cito os impactos positivos do ciclo de queda das taxas de juros e o avanço do crédito como principais causas. Já para aços longos, o cenário para o consumo no curto prazo continua relativamente mais pessimista, haja vista a fraqueza do mercado imobiliário no País como um todo e a paralisação do andamento da agenda de infraestrutura do governo federal, devido às incertezas no campo político”, assinala. (DCI)