UOL Economia/Bloomberg
Nos últimos 12 meses, produtoras de veículos, fabricantes de baterias e empresas de tecnologia correram para garantir acesso de longo prazo ao cobalto, o metal que, se escassear, pode impedir a revolução dos veículos elétricos.
Agora, a Vale fechou o primeiro contrato realmente de grande escala e de longo prazo para a venda de cobalto de sua mina Voisey’s Bay, no Canadá, para a Wheaton Precious Metals e a Cobalt 27 Capital. O acordo de streaming de US$ 690 milhões estabeleceu uma marca para o que usuários como a BMW podem ter que pagar pelo metal azul prateado – e trata-se de um valor muito otimista.
Pelo acordo, Wheaton e Cobalt 27 pagarão US$ 390 milhões e US$ 300 milhões, respectivamente, por parcelas da produção futura de cobalto da Voisey’s Bay. A Cobalt 27 receberá cerca de 730 toneladas por ano a partir de 2021, quando o projeto será acelerado, e 850 toneladas por ano quando estiver operando a plena capacidade, a partir de 2025, segundo apresentação da empresa. A empresa continuará pagando à Vale cerca de 20 por cento do preço à vista do cobalto pelo metal que receber.
Considerando que os compradores estejam buscando um retorno de pelo menos 10% sobre o investimento, o acordo sugere um preço para o cobalto de US$ 36 a US$ 39 por libra-peso – pouco abaixo do preço atual de US$ 42 e mais do que o triplo do custo de dois anos atrás. Trata-se de um sinal otimista em um mercado que vem oscilando nos últimos tempos em meio aos sinais de que a oferta ainda é ampla o suficiente e muitos analistas preveem que os preços cairão.
Contudo, se a revolução dos carros elétricos realmente se consolidar, essa expectativa de preço pode não ser nada do outro mundo. A Sanford C. Bernstein tem afirmado que o cobalto pode ter que subir para US$ 60 por libra-peso para cumprir as metas dos governos para os veículos elétricos.
O acordo da Vale, que surge depois de a Glencore assinar, em março, um contrato de três anos para vender sua produção para uma fornecedora chinesa de produtos químicos para baterias, pode não ser diretamente replicado por outras grandes mineradoras. A Glencore e a Eurasian Resources Group, que têm os maiores planos para expandir a produção, têm como fonte principal de receita de suas minas a produção de cobalto, por isso é pouco provável que queiram limitar sua exposição ao preço como fez a Vale.
Ao mesmo tempo, as empresas automotivas que desejarem garantir oferta provavelmente o farão por meio de uma série de estratégias, desde contratos de longo prazo até acordos com pequenas mineradoras, disse Caspar Rawles, analista da Benchmark Mineral Intelligence.
Ainda assim, o acordo da Vale estabelece uma espécie de referência de preço para contratos de cobalto de longo prazo ao mostrar quanto os investidores financeiros estão dispostos a pagar.
“A realidade é que ou você acredita na aposta ou não”, disse Rawles. “A aposta, a longo prazo, definitivamente ainda vai para os altos preços e a oferta escassa”. (UOL Economia/Bloomberg/Jack Farchy e R.T. Watson)