O Estado de S. Paulo
Com os prazos de uma possível conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia se esgotando, Bruxelas alerta que caberá ao bloco sul-americano fazer concessões em setores estratégicos para permitir que o tratado negociado há quase 20 anos finalmente seja fechado.
Numa declaração enviada por email ao Estado, a Comissão Europeia deixou claro que espera da parte do Mercosul ofertas mais generosas para que possa haver um entendimento.
A partir de segunda-feira, Mercosul e UE voltam a se reunir em Montevidéu, no que pode ser um momento decisivo no processo. O acordo estava prestes a ser fechado em dezembro. Mas por falta de um concessão suficiente dos europeus no setor agrícola, o Mercosul considerou que o processo negociador deveria continuar.
Em ambos os lados do Atlântico, porém, está claro que o acordo não terá como ser negociado uma vez que o Brasil passe a entrar em uma lógica eleitoral, paralisando todas suas atividades. O governo alemão, por exemplo, chegou a insinuar que se não houver um entendimento antes de julho, todo o processo ficará para 2019, já com um novo presidente no Brasil.
De acordo com a Comissão Europeia, a nova rodada será realizada “com base nas trocas construtivas que ocorreram nas últimas semanas”. De ambos os lados, técnicos trocaram impressões sobre as ofertas apresentadas pela UE e pelo Mercosul.
Mas os europeus alertam que novas concessões terão de ser apresentadas por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai para que haja um avanço.
“Entretanto, há ainda trabalho por ser feito em assuntos pendentes”, indicou a Comissão. “Isso vai exigir um esforço considerável de nossos parceiros do Mercosul, especialmente em veículos, autopeças, indicações geográficas, transporte marítimo e produtos lácteos”, disse.
No fundo, o que Bruxelas alerta é que quer mais abertura do Mercosul para a importação desses setores para que aceite atender aos pedidos dos sul-americanos por novas aberturas no setor agrícola, um constante demanda do Mercosul.
Para os europeus, “o nível de ambição da rodada será determinado pelo progresso que poderá ser atingido durante as discussões”. “Nesse momento, não podemos prejulgar os resultados”, disse.
Ainda com a pressão lançada, a UE insiste que está “totalmente comprometida em fazer progresso, com o objetivo de completar um acordo com o Mercosul com benefícios mútuos e ambiciosos”.
Para o Mercosul, porém, são as cotas considerada como insuficientes no setor do açúcar e carnes, além de barreiras ainda existentes em outras áreas, que ainda impedem um acordo.
Em janeiro, ao Estado, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, se mostrou pessimista com a possibilidade de se chegar a um acordo com os europeus. “O Mercosul entregou tudo”, disse o ministro. “Custou caro para nós essa entrega”, insistiu, em referência às concessões que foram feitas em determinadas áreas comerciais. “Sinceramente, não temos mais nada a entregar. São eles que precisam agir”, completou. (O Estado de S. Paulo/Jamil Chade)