Montadoras discutem responsabilidades do carro autônomo em evento do “Estado”

O Estado de S. Paulo

 

Enquanto os consumidores aguardam o lançamento de carros que se dirigem sozinhos, em meio a testes mundo afora, pesos pesados do setor automotivo mundial pensam no passo seguinte: quem será responsável por eventuais acidentes de trânsito que possam ocorrer no mundo dos carros autônomos?

 

O assunto foi debatido manhã da última sexta-feira, 25, no Summit Mobilidade Latam 2018, evento promovido pelo Estado em parceria com a 99. Para Philip Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina, a parte técnica da automação dos carros é a mais fácil do processo. Mas as mudanças só vão de fato ocorrer nas grandes cidades quando as legislações de trânsito se adaptarem à realidade em que o ocupante do veículo não é mais um condutor e, também, quando a infraestrutura de telecomunicações permitir o uso massificado dos novos veículos, que exigem larga troca de dados. “Outra questão a se pensar é na segurança das informações”, disse o executivo.

 

O presidente da Audi do Brasil, Johannes Roscheck, partilha das mesmas preocupações. Ele apresentou aos convidados a visão da montadora alemã para a automação do transporte, mostrando a forma planificada como a empresa vê o tema. Em uma divisão do processo em cinco etapas, em que a última é a automação total, Roscheck posicionou o cenário atual na terceira fase, em que os carros já poderiam ser seguros sem a interferência do condutor em alguns ambientes.

 

Mas ele partilhou uma visão da empresa para o futuro da mobilidade em que os carros voariam. “Estamos trabalhando com a Boeing nisso”, afirmou, ao mostrar um modelo em que os carros são pequenas cabines que se encaixam tanto em bases com rodas quanto em tetos com hélices.

 

Realizado em meio à paralisação dos caminhoneiros, que afeta serviços essenciais por todo o país, o evento também discutiu o uso dos combustíveis no futuro. E o consenso ao redor da mudança para carros elétricos também foi a cidade. O presidente da Audi disse que a mudança na matriz “é um processo natural”, que pode ocorrer em maior ou menor prazo. No caso brasileiro, ele disse acreditar que o processo poderá ser mais lento, dada a falta de estrutura nas cidades brasileiras para a recarga dos veículos.

 

Mais cedo, o empreendedor e autor de livros norte-americano Gabe Klein convidou o público a pensar nas mudanças que as transformações na mobilidade devem trazer para o desenho urbano mundial. Ele citou a rápida transformação que as cidades tiveram, em poucas décadas, com a chegada dos carros, que tirou de cena as ruas estreitas dos centros das cidades, feitas para pedestres e carroças, para dar lugar a grandes avenidas para automóveis. (O Estado de S. Paulo/Bruno Ribeiro)