Nova fase nas exportações?

O Estado de S. Paulo

 

O setor externo brasileiro está muito robusto. O déficit em conta corrente caiu de mais de US$ 100 bilhões, em 2014, para menos de US$ 10 bilhões, no ano passado. Os investimentos diretos estrangeiros ficaram na faixa dos US$ 70 bilhões, mesmo nos nossos piores momentos, e as reservas internacionais estão em quase US$ 400 bilhões, maiores do que a dívida externa, pública e privada. Esta diminuiu de US$ 352 bilhões, em 2014, para US$ 313 bilhões, no ano passado.

 

O saldo comercial cresceu bastante e atingiu US$ 67 bilhões em 2017 e, embora deva cair em virtude do crescimento das importações, decorrente da recuperação da economia, eles ainda deverão ser superiores a US$ 50 bilhões no final deste ano.

 

É verdade que as importações recuaram nos anos de crise, explicando parte do saldo. Mas nossas exportações vêm crescendo e entrando em uma nova fase, na qual tudo indica que as vendas externas passarão a compor a estratégia de muitas empresas que operam no país.

 

Considerem-se os seguintes pontos: As cadeias de recursos naturais, especialmente o agronegócio e o petróleo, seguem em franca expansão, resultante de investimentos e competitividade da produção nacional.

 

Pela primeira vez em muito tempo, os países do Mercosul têm estruturas de política econômica semelhantes e estão numa trajetória de expansão. O mesmo já acontece nos países que margeiam o Pacífico, de sorte que o comércio e os investimentos cruzados estão em clara elevação na América do Sul. Esse potencial pode ser ainda maior se houver avanços nas negociações comerciais na região e do Mercosul com a Europa.

 

É preciso lembrar que as chamadas cadeias de produção global têm um componente geográfico muito definido e foram se formando de uma maneira mais ou menos natural. Esse é o caso dos Estados Unidos, do Canadá e do México. É também o caso da integração de parte da Europa com a poderosa indústria alemã e, no caso mais claro, da integração dos sistemas produtivos de Japão, Coreia, Taiwan, China e outros.

 

A distância do nosso país para esses blocos, além da precariedade da nossa infraestrutura, torna bastante cara e difícil uma eventual integração com esses sistemas. Nessas condições, a internacionalização da economia brasileira tem de se firmar antes no espaço sulamericano, e o mesmo vale para nossos parceiros, como Argentina e Colômbia. É preciso aproveitar o momento atual.

 

Muitos tipos de empresa estão participando desse movimento. No setor automotivo, as companhias que investiram em novas plantas industriais claramente incorporaram o mercado latino-americano em seu território. É isso que explica por que as exportações do setor automotivo rapidamente saíram de pouco mais de 300 mil veículos para mais de 700 mil em 2017. Acredito que esse seja um movimento que veio para ficar.

 

Em outro plano, participam das exportações e do processo de internacionalização não apenas empresas tradicionais (Embraer, Marcopolo, WEG e outras), mas um novo grupo de companhias fundadas por gente mais jovem e que já nasceu com uma visão global, partindo de exportações para investimentos em outros países.

 

Esse é o caso da Magnamed, empresa que produz equipamentos inovadores de ventilação pulmonar, tanto para UTIs como para serem levados em ambulâncias. Em pouco tempo, a companhia já exporta para 40 países.

 

Na verdade, essa rota também incorpora várias empresas de base tecnológica, prestadoras de serviços. Incorpora ainda exportações de 75 redes de franquias para suas lojas, das 129 redes que hoje operam em 62 países.

 

Eficiência, produtividade e inovação são os novos motores dessas companhias, muito além dos antigos pedidos de favores e subsídios, tão típicos do passado. Esse movimento tem de avançar com a agenda de redução do custo de produzir, movimentar e fazer negócios no país. (O Estado de S. Paulo/José Roberto, economista e sócio da MB Associados – Agradeço a Nely Caixeta e a Armando Mendes, da revista PIB, pela proveitosa conversa que tivemos durante a preparação deste artigo).