The New York Times
É o carro do futuro, e está decolando nos mercados do mundo todo.
É o veículo elétrico? Não. É o SUV, o robusto fora-de-estrada, ávido por gasolina, inventado pelos Estados Unidos e que o mundo adora cada vez mais dirigir.
Animados com o aumento da renda e a queda dos preços da gasolina, os motoristas na China, Austrália e outros países estão deixando de lado seus sedãs menores e optando rapidamente por veículos maiores. Pela primeira vez, os SUVs e os seus primos mais leves conhecidos como “crossovers” já eram mais de um em cada três carros vendidos no mundo todo, no ano passado, quase triplicando sua parcela em comparação com apenas dez anos atrás, segundo os novos dados da empresa de pesquisa do setor automotivo JATO Dynamics.
O Modelo X da Tesla é o único grande SUV totalmente elétrico no mercado.
“Todo mundo está preferindo um SUV”, disse Matthew Weiss, executivo da JATO Dynamics.
A ascensão dos SUVs e dos crossovers já começa a frear o avanço do controle das emissões dos gases dos maiores produtores de gases automóveis e caminhões em todo o mundo, o que está elevando as temperaturas do planeta. Os meios de transporte representam cerca de 14% das emissões causadoras dos gases do efeito estufa, e automóveis e caminhões constituem a maior proporção.
Entre 2005 e 2008, a economia média de combustível dos novos carros melhorou em todo o mundo em cerca de 1,8%, segundo a Global Fuel Economy Initiative, filiada à ONU. Mas, desde então, este ritmo caiu para 1,1% em 2015, muito abaixo do corte de quase 3%, necessário apenas para estabilizar as emissões da frota mundial de automóveis.
O boom global dos SUVs é um enorme obstáculo no caminho rumo a carros menos poluentes, que contava com a ajuda dos avanços da tecnologia de economia de combustível, e dos veículos híbridos ou elétricos. Em comparação com os carros pequenos, os SUVs são menos eficientes em uma proporção de cerca de 30%.
Por outro lado, é menos provável que os SUVs se tornem elétricos no futuro próximo. Existem problemas tecnológicos para carregar carros maiores com baterias; além disso, segundo muitas fabricantes de veículos, os motoristas dos SUVs valorizam a potência e o desempenho, e não querem ser condicionados pela ansiedade em relação à autonomia dos carros movidos a bateria.
O Modelo X da Tesla é o único SUV elétrico maior totalmente elétrico no mercado. A companhia vendeu cerca de 40 mil desde que eles entraram no setor, em 2015.
A bonança da construção dos SUVs se contrapõe às promessas das fabricantes de grandes investimentos em veículos elétricos e em outros veículos de baixa emissão. Agora, estas mesmas companhias estão despejando recursos nos SUVs mais poluentes.
A General Motors, que apresentou o seu carro elétrico Chevy Bolt em 2016, vende cerca de 25 mil deles nos Estados Unidos, e o modelo não recebeu nenhuma atualização que possa incentivar as vendas este ano. Este mês, entretanto, a fabricante anunciou que gastou US$ 265 milhões para construir o seu novo SUV Cadillac XT4 crossover em sua fábrica de Kansas City, no Kansas.
A General Motors ainda investe em tecnologia de carros limpos, disse a porta-voz Laura Toole.
A Volkswagen, que não fabricava SUVs há dez anos, planeja vender cerca de 20 novos modelos de SUVs até 2020, em comparação aos quatro atualmente.
Uma porta-voz da Volkswagen, Jeannine Ginivan, disse que os SUVs da companhia estão repletos de recursos tecnológicos que aumentam a sua eficiência. No entanto, seu modelo Tiguan, o mais popular, que pesa cerca de 1.800 quilogramas, só faz 11 quilômetros por litro na estrada, em comparação com 15 quilômetros ao Passat, seu sedã médio, que pesa perto de 1.400 quilogramas.
Os SUVs agora são particularmente populares na China, onde os grandes veículos oferecem uma sensação de status, de estabilidade nas estradas acidentadas, e espaço para famílias maiores que estão surgindo com o abrandamento da política do filho único.
Até a Europa Ocidental se apaixonou pelos SUVs. Tudo começou depois de 2004, quando Ken Livingstone, na época prefeito de Londres, declarou os motoristas dos SUVs “completos idiotas” e ameaçou cobrar 25 libras esterlinas de pedágio para deixá-los entrar na cidade.
As vendas naquela região mais que dobraram nos últimos cinco anos, quatro vezes mais depressa do que no mercado como um todo, segundo dados da JATO.
As fabricantes têm um forte inventivo financeiro para construir e tentar vender mais SUVs, que em geral são carros mais caros com acabamento de luxo e um preço mais alto em relação aos veículos básicos nos quais se espelham.
Uma pergunta que preocupa os especialistas: o mundo adotará o primo dos SUVs, que polui ainda mais, a picape totalmente americana?
Há sinais de que isto já está acontecendo. No ano passado, a Ford vendeu mais de um milhão de picapes Série F – um quinto deles fora dos Estados Unidos – o que a distancia consideravelmente de desbancar o Corolla da Toyota como o veículo mais vendido do mundo, segundo cálculos da JATO e da Toyota.
“Parece algo do macho americano pensar: ‘Posso querer transportar coisas’”, disse Lewis Fulton, um dos diretores do programa de transportes sustentáveis do Instituto de Estudos dos Meios de Transporte da Universidade da Califórnia, em Davis. “Se isto pegar em outros países, não irá ajudar”. (The New York Times/Hiroko Tabuchi)