O Estado de S. Paulo
O Brasil fechará o ano com mais um recorde no comércio exterior, um superávit de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões na conta de exportação e importação de mercadorias, segundo a nova projeção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Pela estimativa anterior, o resultado ficaria pouco acima de US$ 60 bilhões. A boa evolução das contas externas tem facilitado a recuperação da economia nacional. A posição cambial do País continua sólida, com reservas de US$ 381,24 bilhões no final de setembro e dívida externa de US$ 320,69 bilhões, sendo apenas US$ 59,83 bilhões de curto prazo. O investimento direto líquido, de US$ 83,40 bilhões em 12 meses, daria para cobrir 6,6 vezes o déficit em transações correntes acumulado no período, no valor de US$ 12,65 bilhões. As transações correntes englobam o comércio de mercadorias, as despesas e receitas com serviços (como viagens, transportes, seguros e aluguéis de equipamentos) e a movimentação de renda (como juros, entradas e saídas e lucros e dividendos e transferências pessoais).
A condição saudável do balanço de pagamentos já seria um excelente indicador, mesmo sem levar em conta informações detalhadas sobre os vários setores da economia. Mas a evolução da balança comercial ainda mostra mais um dado muito importante, a boa contribuição das exportações de bens para a reativação da economia brasileira, depois de dois anos de severa recessão.
Durante parte da crise, o saldo comercial positivo foi garantido pela redução das importações. As vendas externas caíram durante algum tempo, mas as compras caíram mais acentuadamente e isso permitiu a recomposição do superávit. O quadro mudou sensivelmente e agora o resultado positivo é alcançado com elevação tanto das compras quanto das vendas externas.
Neste ano, até a terceira semana de outubro, a receita de exportação chegou a US$ 177,52 bilhões, valor 19,5% maior que o de um ano antes, pela média dos dias úteis. O gasto com a importação atingiu US$ 120,66 bilhões, com ganho de 9,1% sobre o total acumulado em igual período de 2016. O saldo obtido em pouco menos de dez meses, de US$ 56,85 bilhões, já foi maior, em valores correntes, que qualquer superávit alcançado num ano completo. O maior havia sido o superávit final de 2016, de US$ 47,68 bilhões.
O resultado geral deste ano foi propiciado por boas vendas de todos os grandes grupos de produtos, primários e industrializados. O último detalhamento refere-se ao período de janeiro a setembro. Nesses nove meses a exportação de produtos básicos (minerais e agropecuários) proporcionou receita de US$ 78,33 bilhões, 26,9% maior que a de um ano antes, pelo critério das médias dos dias úteis. A receita dos industrializados chegou a US$ 82,54 bilhões, com aumento de 11,9% sobre o valor acumulado nos nove meses de 2016. O faturamento obtido com o subgrupo dos semimanufaturados chegou a US$ 23,34 bilhões, com ganho de 13,7%. A receita dos manufaturados, de US$ 59,20 bilhões, bateu por 11,2% a de igual período do ano anterior.
A exportação em alta foi puxada pelas vendas de petróleo bruto, minério de ferro, soja, automóveis de passageiros, produtos siderúrgicos, derivados de petróleo e veículos de carga. A receita em dólares da agropecuária cresceu tanto por causa da evolução dos preços como do aumento do volume embarcado. Isso ocorreu também no caso de petróleo e derivados. No caso dos veículos a surpresa foi a quantidade vendida, com aumento de 52% no total de automóveis e de 26,4% no de veículos de carga. O comércio exterior tem dado uma importante contribuição à retomada do setor automobilístico e de outros segmentos da indústria.
Pela última estimativa do Banco Central, o superávit do comércio exterior ficará em US$ 61 bilhões. A mediana das projeções do mercado financeiro chegou, em 20 de outubro, a US$ 64,75 bilhões, antecipando, portanto, a revisão oficial do Ministério do Desenvolvimento. Com mais acordos comerciais e mais investimentos produtivos, há muito tempo insuficientes, a exportação poderá ir muito mais longe. (O Estado de S. Paulo)