DCI
Montadoras e fabricantes de autopeças dialogam para entregar ao governo federal uma proposta de política industrial que acomode os interesses da cadeia automotiva. Segundo as entidades que representam os dois setores, há convergência entre as empresas.
Durante os últimos cinco anos, o regime automotivo intitulado Inovar-Auto não trouxe aos fabricantes de autopeças os benefícios esperados.
Agora, as empresas vêm dialogando com o governo para implementar uma nova política industrial do setor, programa chamado “Rota 2030”.
Em entrevista ao DCI, o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Dan Ioschpe, afirmou que o setor espera que o programa dê suporte para a busca de uma competitividade sistêmica. “De um modo geral, montadoras e fabricantes de autopeças estão convergindo nesse tema”, disse.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, vem afirmando continuamente que o primeiro pilar do Rota 2030 é recuperar a base de fornecedores. “Com a queda do mercado, a cadeia tem sofrido muito.”
Um dos principais pontos do Inovar-Auto, que acaba ao final deste ano, é a exigência de conteúdo local para abatimento de 30 pontos do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos, o que, em tese, fortaleceria a cadeia.
No entanto, Megale admite que o Inovar-Auto não gerou os efeitos esperados. “O adensamento da cadeia produtiva era o objetivo do programa, mas as compras locais não aconteceram conforme prevíamos”, declarou.
Ele salienta que o Sindipeças e a Anfavea estão dialogando para elaborar uma proposta de política industrial ao setor. “Obviamente, teremos que encontrar pontos de confluência, mas estamos conseguindo convergir.”
Ioschpe pondera que a busca por competitividade na cadeia é o principal foco do Sindipeças para o Rota 2030. “Nossas sugestões ao governo estão centradas na previsibilidade”, pontua.
O dirigente acrescenta que, devido à drástica queda da produção de veículos no País, a indústria de autopeças enfrentou nos últimos anos a pior crise de sua história. “Mas os fabricantes demonstraram grande resiliência e cumpriram seu papel na cadeia automotiva. E neste momento de retomada têm feito o mesmo.”
Ioschpe elenca como principais expectativas para o Rota 2030 a definição de um programa de longo prazo, além do esclarecimento dos requerimentos de segurança, eficiência, níveis de emissões e conectividade para a comercialização de veículos no mercado brasileiro.
Contudo, executivos de montadoras vêm afirmando que os fabricantes de autopeças que não estiverem preparados para atender às novas plataformas globais ficarão de fora de futuros projetos. “Todos os tiers da cadeia de fornecedores têm condições de atender às montadoras, cada um com suas características”, garante o presidente do Sindipeças.
Estratégias
Enquanto a ociosidade das montadoras gira em torno de 50% no País, o que impacta diretamente os fabricantes de autopeças, representantes do setor estudam medidas para fortalecer a cadeia de fornecedores.
“Temos discutido com a área técnica do governo, por exemplo, uma forma de solucionar a falta de certidão de débitos de algumas empresas da cadeia produtiva”, explica Megale.
Segundo ele, uma das propostas para o Rota 2030 é uma espécie de Programa Especial de Regularização Tributária (Refis) para empresas da cadeia que estão em dificuldades. “Essa é uma das nossas discussões com o governo”, relata Megale.
Outra estratégia para impulsionar a cadeia são programas de gestão já realizados com sucesso por empresas como a Bosch, por exemplo, que ajudou 25 de seus fornecedores em um amplo projeto.
“Estamos discutindo quais instrumentos poderiam ser usados nesse tipo de estratégia, como agências e empresas de fomento”, diz o dirigente.
Mas enquanto o mercado interno não se recupera de maneira consistente, a indústria de autopeças terá que adotar medidas para sobreviver no curto prazo. De acordo com o presidente do Sindipeças, as exportações de veículos e de peças – de forma direta – têm auxiliado na recuperação do setor.
“Nossas projeções indicam um crescimento de 9,5% do faturamento nominal dos fabricantes de autopeças, após quedas sucessivas nos últimos anos”, revela Ioschpe.
O dirigente destaca que o câmbio continua sendo de extrema importância para o setor. “Mas nós temos que estar preparados para a sua volatilidade natural”, observa.
Ioschpe pondera, entretanto, que não há previsão de retorno do recorde de 3,8 milhões de veículos no mercado doméstico, alcançado em 2012.
“É difícil fazer esse tipo de previsão, mas vale ressaltar que a recuperação dos volumes neste ano está superando as nossas expectativas”, declara. (DCI/Juliana Estigarríbia)