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Com ociosidade acima de 60%, a indústria de motos não se arrisca a apontar uma retomada do mercado. A expectativa do setor é que o patamar recorde de 2 milhões de unidades, alcançado em 2011, não deva voltar em um horizonte mínimo de dez anos.
“Na melhor das hipóteses, o recorde do mercado retorna em um horizonte mínimo de dez anos”, afirmou nesta terça-feira (11) o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), Marcos Fermanian.
A entidade mantém a projeção de queda de 1,1% das vendas no varejo este ano, para 890 mil unidades, apesar de no primeiro semestre a retração acumulada ter alcançado 9%. “Prevemos um crescimento gradual dos emplacamentos a partir da segunda metade do ano”, acrescenta o dirigente.
No início da crise do setor, a retração estava concentrada basicamente no segmento abaixo de 160 cilindradas (cc), que representa cerca de 80% das vendas no País.
No entanto, segundo dados da Abraciclo, nos seis primeiros meses do ano a queda dos emplacamentos de motos entre 450 cc e 800 cc foi de 19,3% em relação a igual período de 2016.
“O segmento de alta cilindrada até cresceu nos últimos anos, a despeito da retração econômica, mas hoje a crise está mais disseminada entre as categorias de motocicletas”, destaca Fermanian.
Contudo, ele acredita que, apesar da instabilidade política, as vendas de motos podem começar a experimentar uma retomada gradual. “A impressão que nós temos é que o brasileiro está um pouco anestesiado com a crise política. Se ele precisar comprar uma moto, o cenário atual não deve impedir essa aquisição como no passado recente”, avalia.
De acordo com o dirigente, o fator que contribuiu de forma decisiva para derrubar as vendas nos últimos anos foi a restrição ao crédito. “A partir de meados de 2012, os bancos foram se tornando cada vez mais seletivos”, pontua.
Fermanian informa que, atualmente, de cada dez pedidos, as instituições financeiras aprovam de duas a três fichas. “Esse quadro não mudou muito nos últimos tempos.”
Ele cita como exemplo que o Itaú Unibanco parou de atuar já há algum tempo nos financiamentos de motos. “O banco representava uma parcela importante das nossas vendas financiadas, de aproximadamente 30% do total.”
O dirigente conta ainda que o número de consórcios caiu muito no setor duas rodas. No primeiro semestre de 2016, a modalidade representava 35% das vendas de motos no País. Em igual período deste ano, esse índice caiu para 30,5%.
“O consórcio é usado majoritariamente nas classes mais baixas, que foram profundamente atingidas pela crise econômica. A sobra da renda, quando acontece, não é suficiente nem para a entrada no consórcio”, relata Fermanian.
Ele salienta que todas as montadoras estão preocupadas com a queda da modalidade nas vendas do setor. “As empresas farão todo o esforço necessário para recuperar essa carteira”, complementa.
Atualmente, o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) é responsável pela maior parcela das vendas de motos no País, correspondendo a 38,8% do total emplacado. Em seguida, vem a venda à vista (30,7%) e logo depois a comercialização por meio de consórcio.
Produção
Diferentemente da indústria quatro rodas, o setor de motos não sentiu um impacto significativo das exportações na produção. No primeiro semestre, os embarques cresceram 4,1% ante igual período de 2016, para 32,4 mil unidades.
De acordo com a Abraciclo, aproximadamente 70% das exportações são feitas para a Argentina. “Hoje, os embarques não chegam a representar 10% da produção”, diz Fermanian.
A projeção atual da entidade para as exportações, neste ano, é de um crescimento de 57,6% em relação a 2016. No entanto, o presidente da Abraciclo acredita que a previsão deve ser revisada para baixo. “Algum ajuste na projeção deve ser feito, mas certamente os embarques devem crescer em 2017”.
Ao mesmo tempo, a produção acumula queda de 8,8% no primeiro semestre, totalizando 423,7 mil unidades. “Este resultado está dentro das nossas projeções”, justifica Fermanian. Mas para 2017 a entidade mantém projeção de crescimento de 2,5% da produção.
“Fatores como o Salão Duas Rodas e a liberação do 13º salário devem impulsionar a indústria no segundo semestre”.
Historicamente, o Salão Duas Rodas traz os grandes lançamentos das marcas para o mercado nacional, o que impulsiona a produção. “As empresas estão se ajustando neste momento para entrar no segundo semestre com os estoques equilibrados e mais preparadas para receber os lançamentos”, explica. (DCI/Juliana Estigarríbia)