O Estado de S. Paulo
A produção da indústria brasileira cresceu 0,8% em maio em relação a abril, o melhor desempenho para o período desde 2011, segundo a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento sucede uma expansão ainda maior que a divulgada no mês anterior, graças a uma revisão na taxa de abril, que praticamente dobrou.
O resultado pode melhorar as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, embora as expectativas sejam de resultado perto da estabilidade, dizem analistas. “Fui pego de surpresa pelos dados da produção industrial de maio. Esperava uma alta de 0,4% e veio o dobro”, disse o economista da Órama Investimentos Alexandre Espírito Santo.
O economista prevê que a produção industrial cresça de 0,6% a 1% este ano, contribuindo para uma expansão de 0,6% a 0,8% do PIB. “Esses dados são uma oportunidade de mostrar que políticas macroeconômicas responsáveis podem apresentar resultados positivos independentemente do quadro político”, afirmou.
O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, concorda que os números da produção industrial de maio são uma boa notícia, mas diz que ainda não sugerem retomada forte. “Os dados estão cheios de ziguezague. Ora estão vindo com bons resultados, ora, ruins. A perspectiva de mais longo prazo não é nada robusta”, disse.
Carros
A produção industrial cresceu em 17 dos 24 ramos pesquisados. O principal impacto positivo foi do setor de veículos, puxado pela fabricação de automóveis e caminhões. As exportações têm ajudado a escoar o estoque das montadoras, enquanto a safra recorde de grãos incentivou a produção de máquinas agrícolas.
Em maio, a indústria mostrou o crescimento mais disseminado em três anos. No entanto, o parque fabril ainda opera 18,5% abaixo do pico de junho de 2013. O patamar de produção se assemelha ao de fevereiro de 2009, época da crise financeira internacional.
“A indústria opera nos patamares mais baixos de sua série histórica desde 2016, bem distante dos patamares mais altos. Ou seja, há uma melhora recente, observada de forma mais clara nos meses de abril e maio, mas que está longe de tirar o setor industrial desse patamar mais baixo em que se encontra. A gente ainda está longe de garantir que haja uma trajetória de crescimento sustentável”, ressaltou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Ele lembra que ainda há um ambiente de incerteza no âmbito político, com reflexo também para o ambiente econômico e possível impacto sobre o consumo das famílias. “Claro que as incertezas podem afetar a produção”, afirmou.
A despeito do otimismo para a economia no ano, o economista da Órama Investimentos acredita que a crise política agravada pela divulgação da delação de Joesley Batista, um dos sócios da JBS, ainda comprometerá a atividade nos próximos meses. “A produção industrial de maio não sofreu o impacto da conversa gravada de Joesley Batista com o presidente (Michel) Temer. Mas certamente ela vai afetar a atividade em junho e começo de julho”, alertou Alexandre Espírito Santo. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Francisco Carlos de Assis e Maria Regina Silva)