Financiamento de veículos registra alta, mas retomada do setor está distante

O Estado de S. Paulo

 

O financiamento de carros novos, que praticamente secou nos últimos anos, começa a mostrar sinais positivos. Em maio, as concessões de crédito não subsidiado para o setor somaram R$ 7,3 bilhões, o que representa alta de 23,2% em relação a abril deste ano e crescimento de 5,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Antes de comemorar uma eventual retomada e já ir pensando em trocar de carro, porém, especialistas recomendam cautela.

 

A queda da taxa de juros e os primeiros sinais de recuperação da economia servem para animar um pouco o setor. No entanto, a confirmação de uma melhora no cenário de crédito automotivo, de fato, só deve acontecer no segundo semestre.

 

“O crescimento ainda é muito tímido, mas a tendência é de melhora para os próximos meses”, diz Fernando Miranda, presidente da plataforma Webmotors, maior site de vendas de carros do País.

 

Marcos Lavorato, gerente de relações institucionais da B3 – empresa originada da fusão da BM&FBovespa com a Cetip –, é um pouco mais cauteloso. O executivo vê mais estabilidade do que recuperação no financiamento de automóveis. “A renda do brasileiro começou a reagir mais por conta da queda da inflação”, afirma. Para ele, o desemprego ainda alto é o principal entrave para os bancos aumentarem o volume de recursos para o setor.

 

A B3 apontou em seu relatório de maio que a venda financiada de veículos cresceu 17,5% em maio na comparação com o mesmo mês de 2016. Os dados consideram automóveis leves, motos e caminhões.

 

Para André Novaes, diretor do Santander Financiamentos, uma consolidação de retomada deve chegar até o final do ano.

 

A perspectiva do executivo baseia-se na queda esperada para o desemprego e para a Selic, a taxa básica de juros da economia. Analistas consultados pelo BC no último relatório Focus projetam que a Selic encerre o ano em 8,5% ao ano, bem abaixo dos atuais 10,25%.

 

No caso do mercado de trabalho, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou um saldo positivo de 34,2 mil vagas de emprego geradas em maio.

 

“O desemprego avançou rápido no Brasil, mas não houve uma grande crise de inadimplência nos financiamentos de veículos. Pelo contrário, os bancos, de certa forma, mantiveram carteiras seguras em um momento econômico sensível e com juros muito altos.

 

Agora, com a melhora dos indicadores, há estabilidade para fomentar mais o crédito”, diz Novaes.

 

Preço

 

Mesmo sem um incremento substancial de crédito na praça, o desempenho do setor em maio foi animador. Entre os automóveis leves, foram financiadas 97.154 unidades novas no mês, alta de 12,7% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo a B3. Já as vendas a prazo de carros usados totalizaram 259.601 unidades, aumento de 22,1% quando comparado com o mesmo período do ano passado.

 

Quanto aos preços, mesmo em um cenário de retração de vendas, os veículos acumularam altas acima da inflação nos últimos 12 meses.

 

A pedido da reportagem, a consultoria Molicar fez um levantamento de preços de veículos, considerando dois dos modelos mais vendidos no ano, o Ônix, da General Motors, e o HB20, da Hyundai. “O Ônix teve um aumento de 7,6% e o HB20, 4,9%. Esses são veículos de entrada, mais suscetíveis a variações de preços, por isso os aumentos são menores, mas bem acima da inflação”, afirma a empresa.

 

Segundo as montadoras, uma das explicações para o aumento de preço no período está relacionada ao repasse de preços de insumos e ao aumento de tecnologia embarcada nos veículos. (O Estado de S. Paulo/Jéssica Alves e Malena Oliveira)