DCI
As montadoras tentam vencer a resistência do brasileiro ao carro 1.0, antes visto apenas como a opção mais barata do mercado. A nova geração de motores “mil” vende o apelo de economia de combustível sem perda de desempenho para atrair o consumidor.
Um dos principais diferenciais dos novos modelos 1.0 é a redução do tamanho do motor e do número de cilindros (o chamado downsizing), aliada a outras tecnologias, o que proporciona menor consumo sem perda de performance.
Para o especialista de marketing do produto da Volkswagen do Brasil, Leandro Oliveira, o conceito de automóveis “mil” do passado ficou para trás. “Hoje, o consumidor da nossa marca não tem mais resistência aos carros 1.0 porque nossos modelos entregam eficiência energética e potência”, garante.
O consultor da Sell-Out 3, Arnaldo Brazil, explica que, diferente da Europa, no mercado brasileiro os automóveis 1.0 sempre foram uma necessidade. “O poder aquisitivo é o que levava o consumidor a comprar um carro ‘mil’.” Em meados da década de 1980, casos mal sucedidos de ultrapassagem e de “subida da serra” transformaram os automóveis 1.0 em verdadeiros estigmas.
“À época, um carro 1.0 brasileiro tinha cerca de 50 cavalos de potência. Hoje, esse quadro mudou”, observa.
Com tecnologias que incluem, por exemplo, injeção direta e motores feitos em grande parte com alumínio – material mais leve -, a oferta de carros 1.0 de três cilindros cresceu no País.
“Há alguns anos, quando fomos a primeira a montadora a oferecer esse tipo de combinação no mercado nacional, recebemos muitas críticas”, afirma o vice-presidente da Kia Motors, Dino Arrigoni.
De acordo com o executivo, o compacto Picanto 1.0 de três cilindros possui um excelente custo-benefício. “O modelo entrega potência e consumo extremamente baixo.”
O mercado chegou a aventar que a Renault traria o compacto Kwid com motor 0,8 litro de 3 cilindros ao Brasil, o que a montadora nega. “Para vingar, um carro 0.8 teria que ter uma equação de preço e muita tecnologia”, avalia Brazil.
Competição
Hoje, mais marcas já oferecem carros 1.0 de 3 cilindros, como a Hyundai (HB20) e a Nissan (March). Além dessa combinação, as montadoras apostam também no turbocompressor para redução do consumo e aumento de potência. É o caso da Volks com a linha TSI. Um dos modelos mais vendidos com essa família de motores é o compacto up!
“O up! 1.0 TSI, apesar de mais caro do que a versão comum, entrega desempenho semelhante a muitos 2.0 do mercado”, assegura Oliveira. Segundo ele, a versão turboalimentada do up! custa cerca de R$ 4 mil a mais. “Pelo custo-benefício, a diferença acaba sendo pequena.”
Prova disso, afirma Oliveira, é o crescimento das vendas do up! TSI no Brasil. O executivo revela ao DCI que, no acumulado de janeiro a maio, os emplacamentos da versão turboalimentada do compacto atingiram 44% do mix do up!. “Esse volume de vendas é extremamente relevante. O up! TSI já é um sucesso”, avalia.
Arrigoni, da Kia, relata que a montadora deve trazer nos próximos meses o Picanto 1.0 turbo ao Brasil. “Estamos em fase de adaptação desse motor e em breve o modelo estará disponível no País.” Ele pondera que, perante o custo-benefício, a versão turboalimentada vale a pena. “A diferença de preço existe, mas não é tão impactante”, complementa.
O consultor da Sell-Out 3 observa, porém, que o sucesso de compactos com motores pequenos passa por uma mudança de hábito do consumidor. “O brasileiro tem um perfil semelhante ao norte-americano, que gosta muito de automóveis grandes”, diz Brazil.
Ele pontua que, apesar do avanço tecnológico, o 1.0 continua sendo o carro da família brasileira. “Para emplacar verdadeiramente no mercado, o modelo precisa carregar quatro pessoas com bagagem sem engasgar”, ironiza. (DCI/Juliana Estigarríbia)