John Deere estuda ampliar braço de construção no Brasil com a Wirtgen

DCI

 

A John Deere estuda expandir o seu braço de construção no Brasil também através de parceria com a Wirtgen. Segundo apurou o DCI, o projeto de cooperação com a empresa alemã deve começar pela produção de rolos compactadores com selo Deere.

 

A estratégia, segundo fontes, visa ampliar a percepção da marca Deere – considerada a maior fabricante de máquinas agrícolas do mundo – também no segmento de construção através da expertise da Wirtgen, adquirida recentemente pela empresa norte-americana.

 

No Brasil, a Wirtgen já atua na linha de asfalto por meio de sua subsidiária Ciber, que fabrica rolos compactadores em Porto Alegre (RS) com a marca Hamm.

 

“É bem possível que a Deere passe a fabricar o produto com o seu selo na fábrica de Indaiatuba (SP), que é bem mais moderna do que a planta da Ciber”, diz uma fonte.

 

A produção local com conteúdo nacional é obrigatória para que a máquina possa ser vendida através do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Finame. O crédito possui taxas mais baratas do que as praticadas por bancos comerciais.

 

Atualmente, a Deere fabrica pás-carregadeiras, retroescavadeiras e escavadeiras em suas duas plantas para o segmento de construção em Indaiatuba, inauguradas em fevereiro de 2014. Estes são os tipos de máquinas de movimentação de terra (segmento conhecido como linha amarela) mais vendidos do País e que possuem o maior número de fabricantes locais.

 

A Deere divulgou ainda no início do ano passado que três modelos de tratores de esteira serão fabricados no Brasil a partir de janeiro de 2018. Os produtos, segundo a empresa, devem atender de 85% a 90% da demanda local. O investimento para a nacionalização dos tratores será de aproximadamente R$ 80 milhões, informa a companhia.

 

Conforme apurou o DCI, apesar do alto valor agregado de seus produtos, a John Deere entrou com uma estratégia agressiva no mercado brasileiro para ganhar espaço.

 

“Como a competição se tornou muito acirrada no País, a Deere entrou com preço baixo e crédito agressivo, mas ainda assim possui uma participação baixa nas vendas”, conta uma fonte do mercado.

 

A estratégia da empresa norte-americana para rolos compactadores terá que superar a forte queda do segmento de pavimentação que, segundo agentes do mercado, é praticamente inexistente hoje.

 

“As vendas do segmento de pavimentação são ínfimas atualmente. O mercado só vai voltar quando o investimento e as obras de infraestrutura saírem do papel”, completa uma fonte ligada à atividade.

 

Para o vice-presidente da entidade que reúne os fabricantes do setor (Sobratema), Eurimilson Daniel, o nível de vendas de máquinas de construção está muito baixo. “O cenário vinha melhorando para a nossa indústria, porém as recentes delações envolvendo políticos vieram como um balde de água fria”, avalia.

 

Daniel acrescenta que concessões de rodovias são os principais vetores de crescimento para o setor. “Porém, hoje, os investimentos estão parados”, complementa.

 

De acordo com fontes ouvidas pelo DCI, os produtos da Wirtgen possuem alto valor agregado e tecnologia embarcada. A possível escolha da linha de rolos compactadores para fabricação local com selo John Deere seria para atacar um nicho mais específico, fugindo de modelos “espartanos” e com preços mais baixos.

 

Procurada, a John Deere informou que não irá se pronunciar sobre o assunto.

 

Conjuntura

 

Após passar por um boom de investimentos em meados de 2011, o segmento de máquinas e equipamentos para construção começou a sofrer uma forte retração. De 2014 para cá, as vendas recuaram praticamente pela metade.

 

Para 2017, a Sobratema estima vendas de aproximadamente 9 mil unidades, alta de 5% a 6% em relação a 2016. “Porém, estamos acompanhando o mercado de perto, já que a instabilidade política ainda afeta o apetite por investimentos”, observa Daniel.

 

Segundo o diretor de assuntos tributários, relações trabalhistas e financiamentos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Hiroyuki Sato, a atual taxa do Finame desestimula a produção local de bens de capital.

 

“Se não houver uma mudança na política de financiamento do BNDES para máquinas, vamos entrar em um caminho perigoso de desindustrialização”, avalia.

 

O dirigente da Sobratema salienta que, para os investimentos voltarem ao segmento da construção, o País precisa de estabilidade. “Para alavancar a nossa indústria, a tempestade política tem que passar”, acredita Daniel. (DCI/Juliana Estigarríbia)