Ao comprar carro usado, cuidado para não cair em armadilha

Jornal do Carro

 

Comprador não deve fechar negócio sem antes ver pessoalmente o veículo. Modelos muito baratos às vezes são desvalorizados por causa de alguma falha grave.

 

Quando o empresário Rafael Franco Valadares viu na internet, em 2016, a oferta de um Chevrolet Vectra GT 2010 por R$ 17 mil em um leilão, não perdeu tempo. O negócio parecia bom, pois, na época, um carro similar custava cerca de R$ 25 mil. Valadares decidiu fazer o lance sem ver o hatch.

 

Só no momento da retirada ele descobriu que o modelo havia sido furtado e se encontrava parcialmente depenado: “Estava sem o banco de trás, forração lateral e caixa do ar-condicionado”, afirma. Valadares diz que gastou R$ 1,5 mil para fazer os reparos e ficou três meses com o veículo, que foi novamente furtado.

 

Comprar veículo usado pede calma e atenção. Há ofertas vindas de casas de leilão, locadoras, lojistas e particulares. Dependendo da origem e do estado de conservação, o mesmo modelo pode apresentar muita variação de preço.

 

Carros de leilão costumam ser mais baratos, mas é preciso avaliar bem para saber o motivo que o levou ao pregão. Os mais comuns são os de financeiras (recuperados por falta de pagamento) e seguradoras.

 

Nesse caso, os veículos podem ter sido recuperados de roubo ou furto, ou estar batidos. Seja qual for a razão, há uma natural desvalorização de mercado, porque no laudo de vistoria (documento obrigatório para transferência) vai constar que o automóvel é proveniente de leilão.

 

Ainda que esteja em perfeito estado, só essa observação na documentação resulta em pelo menos 10% de desvalorização no preço médio – que podem ser compensados pelo valor mais baixo pago na compra (veja mais na próxima página).

 

De acordo com Munir Faraj, dono da loja multimarcas Trans-Am Faraj, na zona norte, veículos provenientes de financeiras podem estar em bom estado. “Ele pode ter sido retomado porque o dono não conseguiu pagar as prestações”.

 

Mesmo assim, Faraj alerta que é preciso ficar atento, pois, se o dono inadimplente sabe que poderá perder o carro, a tendência é que descuide da manutenção. “São veículos que podem vir sem chave reserva e manual, etc”, diz.

 

Os casos mais críticos são os leilões de seguradoras, que em geral reúnem carros batidos ou recuperados de roubo e furto. Dependendo do dano, nem as próprias seguradoras aceitam fazer uma nova cobertura.

 

Classificação

 

Carros batidos que vão para leilão são divididos em três níveis. De acordo com a intensidade da avaria, os sinistros são classificados como de pequena, média ou grande monta.

 

A vantagem dos modelos do primeiro grupo é que nesse caso o documento não traz a advertência de que o carro foi leiloado. Essa inscrição cria um estigma, e consequente desvalorização de mercado. É o que ocorre nos classificados como média e grande monta.

 

A diferença é que os danos de média monta permitem recuperação, enquanto os acima disso são carros destinados a sucateamento.

 

Além da depreciação, há restrição por parte das seguradoras. O corretor de seguros Samuel Saucedo afirma que, dependendo do caso, há empresas que nem sequer aceitam fazer a cobertura. “Quando aceitam, depreciam o carro entre 10% e 20%”. Isso significa que o modelo não irá mais atingir a cotação normal de mercado.

 

A informação é confirmada pelo gerente de vendas da concessionária Volkswagen Amazon, Marcos Leite. “Se o dano atingiu a estrutura, o carro não passa na vistoria.” Nesse caso, o seguro é negado.

 

Mesmo com essas ressalvas, o leilão pode compensar se a avaria do carro for pequena, e o comprador estiver ciente de que não irá conseguir o preço médio de mercado no momento da revenda. Ou seja: ele está pagando menos por um veículo que vale menos.

 

Negócio

 

Há, porém, compradores acostumados a esse tipo de negócio. É o caso do empresário Alessandro Rocha de Azevedo, que diz já ter comprado “uns 30” carros de leilão. Azevedo é dono de uma oficina mecânica e cuida pessoalmente da recuperação desses veículos. Atualmente, ele está trabalhando em dois utilitários da Mercedes: um GLA e um ML63.

 

A primeira dica que o empresário dá é evitar comprar carros que estejam com os airbags deflagrados (normalmente isso indica que a colisão foi grave e que o conserto será mais caro).

 

Azevedo informa que pagou R$ 47.500 no ML63 ano 2012. “Foi um caso de pequena monta”, diz. Ele gastou R$ 25 mil em peças e afirma que pagará R$ 10 mil pelos serviços de funilaria e pintura, feitos na oficina de um amigo. No total, prevê gastar R$ 82.500.

 

Segundo sua estimativa, dá para revender o carro por algo entre R$ 160 mil e R$ 170 mil, já considerando a desvalorização. “Um modelo desses custa cerca de R$ 190 mil”, afirma.

 

Ele sabe que o Mercedes não alcançará o valor médio de mercado porque na vistoria de transferência aparecerá o adendo “histórico de leilão”.

 

Outros casos

 

Há vários fatores que podem depreciar um modelo ou torná-lo uma oportunidade. É o caso de veículos de locadoras, alguns tipos de câmbios automatizados e até cor. “O vermelho só é aceito em carros com tendências esportivas”, garante o lojista Munir Faraj, da Trans-Am Faraj.

 

Locadora

 

Quando a barista Érica Takano retornou ao Brasil, em 2006, após uma temporada morando no exterior, fechou a compra de um Chevrolet Celta 2005. “Encontrei em uma locadora um modelo equipado e pouco rodado pelo mesmo preço de um similar básico”, afirma. Ela conta que ficou cinco anos com o veículo, e garante que não teve dificuldade quando decidiu revendê-lo, em uma feira de usados. “Vendi para uma mulher que tinha revenda de carros.”

 

O gerente de vendas da concessionária Volkswagen Amazon, Marcos Leite, atesta que os carros usados de frotas de locadoras podem ser um bom negócio, desde que estejam com baixa quilometragem. “Como são veículos seminovos, se tiverem até uns 20 mil quilômetros não há problema.”

 

Munir Faraj, da Trans-Am Faraj, lembra que as placas de licença, normalmente de outro estado, e que denunciavam a origem do carro, já não são um problema, embora diga que “não compra e não vende” carro de locadora.

 

De qualquer forma, vale tomar os cuidados básicos antes de fechar negócio, o que inclui avaliação estática e dinâmica. (Jornal do Carro)