O Estado de S. Paulo
Enquanto o movimento nas concessionárias não volta, o canal de vendas corporativas tem sido uma porta de saída da crise para as montadoras. As chamadas vendas diretas – modalidade que inclui, em sua maior parte, negócios com empresas, governo, taxistas e produtores rurais – são o motor por trás dos primeiros sinais de reação da indústria automobilística, sendo responsáveis por 37% do total de carros de passeio e utilitários leves vendidos nos cinco primeiros meses do ano.
O avanço desse tipo de venda é atribuído a contratos fechados com locadoras – só a Localiza e a Unidas compraram mais de 22 mil carros no primeiro trimestre –, assim como a movimentos de renovação de frota percebidos em alguns setores por conta da pequena melhora da atividade econômica no início do ano, em especial no campo.
Segundo Antonio Megale, presidente da Anfavea, que representa as montadoras instaladas no País, as vendas diretas de automóveis também ganharam um empurrão com o surgimento de um novo tipo de cliente corporativo: empresas que compram carros para alugá-los a motoristas de aplicativos de mobilidade como o Uber.
Cálculos feitos a partir de dados divulgados pela Fenabrave, associação das concessionárias de veículos, mostram que as vendas diretas de automóveis de passeio e utilitários leves crescem neste ano mais de 27%, ao passo que no varejo, maior canal de vendas das montadoras, o consumo recua 8,5% sob a influência negativa do avanço do desemprego.
“Há alguns bons sinais na economia, a taxa de juros está em queda e nossa balança comercial segue positiva. Se as reformas forem aprovadas, a confiança das empresas pode aumentar e estimular mais as vendas diretas”, diz Megale.
Embora em alta, as vendas diretas são fechadas com descontos em relação aos preços cobrados pelas concessionárias ao consumidor comum e, portanto, oferecem margens de rentabilidade menores.
No entanto, como o varejo tem demorado a reagir, oportunidades oferecidas por clientes corporativos não podem ser desperdiçadas num momento em que a indústria precisa de escala para ocupar melhor suas linhas de produção.
Recuperação
Entre as montadoras que estão conseguindo aumentar suas vendas neste ano, a General Motors (GM) e a Ford recuperam fatias de mercado não só porque perdem menos volumes do que a concorrência no varejo, mas também porque elevaram em 37% e 47%, respectivamente, as vendas diretas nos cinco primeiros meses de 2017, conforme as estatísticas da Fenabrave. No caso da Renault e da Nissan, o crescimento das vendas nesse segmento gira em torno de 28%.
Fiat e Volkswagen, outras duas montadoras do pelotão de frente da indústria, também ampliaram significativamente as vendas diretas de carros, com altas de 19% e 24%, respectivamente. Mas não o suficiente para anular o tombo que as marcas italiana e alemã estão tendo no varejo. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)